“Esperamos que estes seis meses permitam que chegue o momento em que a União Europeia (UE) começa a funcionar de maneira mais estratégica e de longo prazo. Temos de nos focar em atingir os objetivos que foram definidos pelos pais fundadores: uma Europa livre, pacífica, completa e abrangente, e em paz com os seus vizinhos”, afirmou Janez Jansa.
O primeiro-ministro esloveno falava na sessão plenária do Parlamento Europeu, que decorre esta semana em Estrasburgo, onde apresentou as prioridades da presidência eslovena do Conselho da UE, que começou em 01 de julho, tendo sucedido a Portugal.
Num discurso que durou cerca de 40 minutos, Janez Jansa relembrou que, desde a primeira vez que o seu país assumiu uma presidência da UE, no primeiro semestre de 2008, a União Europeia não parou de enfrentar crises.
“Vieram uma a seguir à outra: a crise financeira, migratória, a ocupação da Crimeia, a criação de conflitos congelados, o ‘Brexit’, e a pandemia de covid-19”, recordou.
Considerando que as crises impediram a UE de focar-se em “discussões sérias” e em “dilemas estratégicos e de desenvolvimento”, o primeiro-ministro esloveno salientou que a União Europeia está atualmente numa “encruzilhada” e “precisa de respostas” ou, pelo menos, de levar a cabo “discussões”.
Jansa elencou assim o conjunto das prioridades da Eslovénia durante o seu semestre europeu — e que vão, desde a resiliência da União Europeia, à Conferência sobre o Futuro da Europa, passando pelo alargamento do bloco aos Balcãs Ocidentais e pelo respeito do Estado de direito — para reconhecer que, numa primeira fase, a Eslovénia irá concentrar-se na luta contra a pandemia e “fazer tudo o que é possível” para prevenir a “emergência de uma quarta vaga” face ao alastramento da variante Delta do SARS-Cov-2, o coronavírus que provoca a doença covid-19.
No entanto, o primeiro-ministro esloveno salientou que, apesar de ser necessário “manter a vigilância, a concentração” e o “trabalho coordenado” no que se refere ao combate à pandemia, é preciso garantir que, “nos próximos seis meses”, a União Europeia “volta à normalidade” que existia antes do início da pandemia, de maneira a conseguir focar-se na “resiliência, recuperação, e autonomia estratégica”.
Considerando assim que, no início da pandemia, a União Europeia “não estava preparada” e “não sabia bem o que havia de fazer”, o primeiro-ministro esloveno apelou que a o bloco desenvolva um “plano europeu comum” para responder a crises como a atual crise pandémica.
“Precisamos de um plano comum para situação atual, com uma crise ou uma ameaça simétrica que afeta todos. Mas também precisamos de planos quando enfrentarmos crises assimétricas que afetam alguns países, e os outros países podem ajudar aqueles que foram mais afetados”, apontou.
Além da frente interna, Jansa destacou também a necessidade de fazer com que se fortaleça a política externa da UE de maneira a fazer com que o bloco seja “mais capaz de responder às tendências da globalização”.
Relembrando assim que, durante a assinatura do Tratado de Lisboa, em 2007, a UE tinha referido que um dos seus objetivos iria ser o de “orientar os processos da globalização”, o primeiro-ministro esloveno disse que é preciso interrogar-se se o bloco se encontra atualmente numa posição para o “fazer”.
Nesse sentido, Jansa elencou as diferentes relações da UE com países terceiros — referindo, nomeadamente, que é preciso definir uma “relação de longo prazo” tanto com a Rússia como com a Turquia — para destacar que os europeus precisam de se aperceber que o ‘soft power’ da UE já “não é suficiente”.
“Se a UE se quiser tornar, primeiro, num ator regional, e, depois, numa força global, precisa de uma combinação de ‘soft’ e de ‘hard power'”, afirmou Jansa.
O primeiro-ministro concluiu o seu discurso referindo que, se a UE pretende “estabelecer um bom futuro para as gerações vindouras”, é da “maior importância” que exista uma “discussão franca sobre dilemas estratégicos” que permanecem “em aberto”.
“Precisamos de encontrar soluções comuns que nos irão permitir seguir em frente”, terminou.
A Eslovénia assumiu a presidência do Conselho da UE a 01 de julho, naquela que é a segunda vez que o país de dois milhões de habitantes se encontra no leme do bloco, após uma primeira presidência em 2008.
No entanto, o cenário é muito distinto daquele de 2008, quando foi em ambiente de verdadeira celebração que se tornou a primeira das ex-repúblicas da antiga Jugoslávia a presidir à União, já então sucedendo a Portugal e integrando o trio de presidências completado por Alemanha.
Desta feita, e apesar de celebrar 30 anos de independência, a Eslovénia vive mergulhada numa crise política, tendo o atual Governo sobrevivido já a duas tentativas de destituição este ano, enquanto decorrem manifestações semanais a reivindicar a demissão do executivo de Jansa, acusado de seguir políticas cada vez mais próximas do seu controverso aliado húngaro Viktor Orbán, designadamente em matéria de Estado de direito e ataques à imprensa livre.
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