Técnicos ligados à política indígena e ex-coordenadores-gerais da divisão de Índios Isolados e de Recente Contacto da Direção de Proteção Territorial da Funai (CGIIRC) divulgaram uma carta aberta em que criticam a exoneração de Bruno Pereira, responsável por chefiar o departamento de tribos isoladas.
“Chamamos a atenção para o crime de genocídio em curso, pelos frequentes cortes e bloqueios impostos à Coordenação-Geral de Índios Isolados e de Recente Contacto e, neste momento, pela exoneração do coordenador-geral Bruno Pereira. Ressalte-se que possíveis interferências ideológicas como as que estamos a presenciar nos quadros técnicos da Funai, em especial, desta coordenação geral é da maior gravidade”, diz a carta.
A Funai é o órgão indígena oficial do Estado brasileiro. Bruno Pereira era responsável por um dos setores mais técnicos do órgão, coordenando 11 equipas que atuam na região amazónica, na proteção de índios que ainda não tiveram contacto com a restante população ou que tiveram recentemente a sua primeira interação.
Segundo o jornal o Globo, este ano, Bruno Pereira chefiou uma mega-expedição (a maior dos últimos 20 anos no país) ao Vale do Javari – que tem uma das maiores concentrações de povos isolados no mundo – no Oeste do Amazonas.
Contudo, Pereira foi exonerado na passada sexta-feira pelo atual presidente da Funai, o delegado da Polícia Federal Marcelo Augusto Xavier, que classificou a demisão como “natural” e resultado da nova gestão do órgão.
“O Brasil é um dos países de maior diversidade étnica do mundo, e com o maior número de registo de povos isolados, conferindo, assim, grande riqueza cultural ao país. A atuação nessa área exige conhecimento especializado (…). Isso ocorre, pois os povos indígenas isolados e de recente contacto estão submetidos a um imenso leque de vetores de vulnerabilidade, tal que uma simples gripe pode causar fulminantes processos de extermínio, assim a história tem comprovado”, afirma a carta divulgada por especialistas.
Dessa forma, os 15 membros que atuam na política de proteção dos povos isolados e que assinaram o documento acrescentaram que “é fundamental a atuação de funcionários e equipas técnicas especializadas, tanto na CGIIRC em Brasília, quanto nas frentes de trabalho”.
A carta termina com um apelo à mobilização da sociedade para reagir e denunciar a “nítida tentativa da desconstrução da política brasileira de defesa e promoção” dos direitos dos índios isolados e de recente contacto.
De acordo com a Fundação Nacional do Índio, entidade coordenadora e principal executora da política para os indígenas do Governo do Brasil, a população indígena do país é de 817.963 pessoas, das quais 502.783 vivem em zonas rurais e 315.180 habitam em zonas urbanas.
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