Em poucos meses, as empresas tecnológicas têm feito milhares de despedimentos. De acordo com os dados da plataforma online Layoffs.fyi, mais de 90 mil trabalhadores foram dispensados no setor tecnológico desde o início do ano. Esta plataforma acompanha os despedimentos coletivos à escala global em empresas tecnológicas.
Entre as empresas tecnológicas está a Google, que demitiu cerca de 12 mil funcionários (6,4% da força de trabalho) e a Microsoft que demitiu cerca de dez mil funcionários (5%). A Amazon demitiu cerca de dez mil trabalhadores, três meses depois de já ter feito cortes. A IBM demitiu cerca de 3900 funcionários, a PayPal dois mil e a Glovo 6,5% da sua mão de obra, como adianta o Jornal de Notícias. Já em finais do ano passado, Elon Musk tinha cortado a mão-de-obra no Twitter, despedindo mais de dois terços dos funcionários, e Mark Zuckerberg tinha feito a primeira grande redução de pessoas nos 18 anos da empresa.
Esta onda de despedimentos tem deixado mesmo aqueles que se consideravam seguros nas suas posições com medo de perderem o seu trabalho. Esta incerteza tem causado muito stress em trabalhadores como Kara que, como revelou a BBC, sabe que é apenas uma questão de tempo para ser dispensada. "Todas as manhãs, antes mesmo de sair da cama, sou tomada por uma sensação de pavor", diz a trabalhadora de 41 anos que vive em Nova Iorque e trabalha nesta empresa de tecnologia há quatro anos.
Durante a pandemia, os trabalhadores sentiram que eram encorajados a priorizar o seu bem-estar pessoal e saúde mental. Agora sentem-se de certo modo traídos por esta liderança que os apoiou, mas que agora representa instabilidade. A ênfase que foi dada à saúde mental contrasta com o cenário de insegurança que os trabalhadores agora vivem.
Alguns especialistas alertam que a onda de demissões a que temos assistido, ou a simples possibilidade de tais cortes, podem deteriorar a produtividade, a saúde física e a saúde mental dos funcionários. Maureen Dollard, professora da University of South Australia, mostra que "trabalhadores em ambientes psicologicamente menos saudáveis tiveram 43% mais dias de licença médica por mês e foram significativamente menos produtivos no trabalho".
O professor Aaron Nurick, da Bentley University, por sua vez, refere que aqueles que não perdem os seus trabalhos, tornam-se mais cautelosos e não se envolvem tanto em comportamentos que possam resultar em inovação porque têm medo de falhar. Em quem fica, gera-se uma "culpa do sobrevivente" e uma sensação de "eu posso ser o próximo".
*Pesquisa e texto pela jornalista estagiária Raquel Almeida. Edição pela jornalista Alexandra Antunes.
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