Num artigo publicado no jornal Público, André Silva diz que o partido teve um resultado catastrófico nas eleições legislativas, que não se explica com razões externas”.
“Apregoar que os resultados são fruto dos ataques de alguns setores que o PAN belisca, dos efeitos do voto útil, ou, pasme-se, do sistema eleitoral que prejudica os pequenos partidos é um insulto à inteligência, pois, como dizia o meu avô agricultor, ‘a boa fazenda nunca fica por vender’”, escreve.
O ex-deputado do Partido-Animais-Natureza defende que o desaire nas eleições de domingo se deveu à “postura errática” do partido liderado por Inês Sousa Real e que o PAN “deixou de marcar a agenda política em áreas que fazem parte da sua matriz”.
Considerado que “chegou o momento de falar perante o definhar do partido” que ajudou a erguer, André Silva considera que “a campanha de 2019 foi bem mais agressiva e hostil” para o partido, que não era sequer conhecido, mas conseguiu impor-se.
“Nas legislativas de 2019, o nível de escrutínio ao PAN e à minha pessoa foi tal que, e na falta de lenha para a fogueira, o material dos meus sapatos até foi objeto do Polígrafo”, lembra, sublinhando que nessas eleições, “com menos palco mediático, ataques constantes e com o mesmo sistema eleitoral, o PAN elegeu quatro deputados”.
Descreve ainda que “o desaire do passado dia 30 tem, sobretudo, causas internas e inteligíveis”, exemplificando: “De partido estrategicamente dialogante com o PS, o PAN passou a comportar-se como seu afilhado”.
“E não ficou por aqui. De afilhado nas autárquicas, o PAN passou a porta-estandarte do OE. No encerramento do debate do documento orçamental, assisti a uma intervenção do PAN que sei que alguns deputados do PS não seriam capazes de fazer, tal foi a devoção na defesa do documento e arremessando em direção a tudo o que mexia contra o PS”, insiste.
Para mostrar a postura errática do partido, André Silva acrescenta: ”Depois deste tango com o partido do Governo, e para pasmo de tantos, não passaram muitos dias até que o PAN viesse anunciar que também queria dançar com o PSD”.
“Nesta dança a três inventada pelo PAN, os eleitores acabaram por excluir o elemento mais dúbio”, sublinha.
Lembra que uma das principais causas de crescimento do PAN, e de fidelização de eleitores, “foi a forma como o partido fazia oposição ao Governo na Assembleia da República, sem descurar o equilíbrio político da equidistância à esquerda e à direita”.
O ex-deputado e ex-porta-voz do PAN considera que o partido deixou de marcar a agenda política nas áreas que fazem parte da sua matriz e noutras que veio a abraçar por imperativo do necessário reforço da democracia” e que “envelheceu umas valentes décadas”.
“Parecem longínquos os tempos do partido polémico, irreverente, não alinhado com os ‘incumbentes’, combativo e sem medo de fazer escolhas e de defender propostas incomodativas”, considera André Silva, que defende que o PAN “deixou de cumprir a sua missão de partido-farol” e “perdeu a chama e a clareza na mensagem política”.
Acrescenta que “o auto-epíteto de ‘partido responsável’ não traz progresso político nem tão-pouco colhe votos”, lembrando que o PAN perdeu “metade dos votos alcançados em 2019, obtendo um resultado semelhante ao de 2015, quando nem os jornalistas conheciam o partido”
“Uma análise com maior acuidade mostra números preocupantes que são reveladores da profunda erosão eleitoral. Por exemplo, no concelho de Lisboa obteve menos votos do que em 2015, e em termos relativos o resultado de 1,82% é semelhante ao obtido em concelhos sem qualquer implantação como a Lourinhã”, exemplifica.
Escreve ainda que “a ineficácia da mensagem política do PAN alastrou-se às áreas que o ergueram” e que o partido perdeu espaço no campo político do ambientalismo, “o que também teve como consequência a debandada de jovens eleitores para outros partidos”.
Sublinhando que desde o momento em que saiu do cargo de porta-voz do PAN não lhe passou pela cabeça regressar, não tendo como ambição ocupar um lugar que já teve, André Silva diz, contudo, que está disponível para ajudar o partido.
“Estou disponível, como sempre estive, para ajudar o meu partido a reposicionar-se e a reconquistar a credibilidade e a voz política que já teve, caso os afiliados decidam por outra liderança”, acrescenta.
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