“A Revolução das Marionetas” dá título à mostra temporária centrada num período em que o vento de mudança também se fez sentir na arte da marioneta em Portugal, como assinala o museu dedicado ao universo das marionetas, máscaras e peças usadas em representações cénicas.
No museu vão estar expostas marionetas de artistas e companhias representativas dessa metamorfose verificada nas décadas de 1970 e 1980, quando a marioneta passa da rua para a sala, adquire novas técnicas e componentes plásticas, abre-se à dramaturgia e dá voz a textos clássicos, recorda a apresentação da mostra.
Aqui vão estar reunidas marionetas das companhias mais representativas desse processo, segundo o museu, nomeadamente o Teatro de Branca Flor, o Grupo de Teatro Perna de Pau, a Companhia de Marionetas de São Lourenço e a Associação Cultural Marionetas de Lisboa.
Das mãos destas companhias e de artistas como Lília da Fonseca, Carlos Chagas Ramos, José Carlos Barros, Helena Vaz, Ildeberto Gama e Manuel Dias, nasceram marionetas das mais variadas técnicas, materiais, expressões plásticas e dramaturgias.
“Dom Quixote e Sancho Pança”, “Auto da Barca do Inferno”, “A Farsa Musical Maria Parda”, “Romance da Raposa”, “História do Soldado” estão entre os textos encenados em marionetas, numa nova forma de teatro que abriu caminho à marioneta contemporânea, evoca o museu que teve origem exatamente numa dessas companhias da mudança – a Companhia de São Lourenço -, em 1987, e que entraria numa nova fase ao abrir portas no bairro da Madragoa, em 2001, depois de acordo com a Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC) da Câmara de Lisboa.
É também nesses anos de 1970-1980 que o Centro Dramático de Évora (Cendrev) recupera os centenários bonecos de Santo Aleixo para cena, dando-lhes vida, não só a nível nacional como internacional.
“Na verdade, é algo tão simples quanto complexo: marioneta, fantoche, bonifrate, boneco, alter ego do ser humano, personagem intemporal e personificação de todas as imaginações. Apto a encarnar todos os estados da alma humana, a utilizar todas as linguagens para comunicar, e por isso mesmo capaz de todas as revoluções”, sublinha Ana Paula Rebelo Correia, diretora do Museu da Marioneta, no texto que abre o catálogo da exposição.
A responsável pelo museu aberto há 23 anos sublinha ainda que os 50 anos da Revolução do 25 de Abril “também foram ventos de mudança no mundo das marionetas”, e que as peças que vão ficar expostas “surgem no contexto de uma nova visão sobre o poder de comunicação da marioneta como mediador na construção de uma democracia cultural”.
O Museu da Marioneta está instalado num edifício que tem passado por várias metamorfoses, desde que foi construído no século XVII para mosteiro de clausura, que ficou conhecido por Convento das Bernardas.
Desde então, passou pelo grande terramoto de 1755 e reconstruções e funções várias, sobretudo depois da extinção das ordens religiosas em 1834, tendo albergado escola, cinema, habitação operária.
Nos anos de 1998-2000 beneficiou de profundas obras de reconstrução e reabilitação, sendo destinado a habitação a custos controlados e serviços.
O Museu da Marioneta situa-se na área em redor do antigo claustro e da sua cisterna, destinando antigas dependências conventuais não só à exposição permanente como a mostras temporárias e a manifestações de música, teatro, cinema, entre outras artes, em diálogos com o universo das marionetas.
A exposição “A Revolução das Marionetas” ficará patente no museu até ao dia 20 de outubro.
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