A falta de ovo verifica-se há várias semanas e deve-se, sobretudo, à redução da produção em toda a Europa devido à gripe aviária, com consequências a nível global.
"Estamos a viver a pior crise", diz Paulo Mota, presidente da Associação Nacional dos Avicultores Produtores de Ovos (ANAPO), ao SAPO24.
Além disso, temos o consumo excecional típico nesta época. "Durante a época natalícia há um acréscimo muito significativo do consumo de ovos em todo o país, ao contrário da Páscoa, onde se verifica sobretudo um aumento do consumo no Norte", nota o presidente da ANAPO.
Mas há mais fatores, como "os custos de produção elevados que retraíram a produção, devido a toda a instabilidade, e que também originou uma redução da oferta", acrescenta Alfredo Martins, diretor-geral da Zêzerovo. "A procura é superior à oferta, como também é superior à média habitual", acrescenta.
Numa declaração escrita, o diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), Gonçalo Lobo Xavier, esclarece no entanto que "não há rotura de stocks em nenhuma categoria de produtos".
"A APED considera que importa deixar uma nota de tranquilidade aos consumidores pois não há rotura de stocks em nenhuma categoria de produtos", diz.
No caso concreto dos ovos, "deve-se apenas a falhas momentâneas de stock devido a um aumento de procura" e face à “demora pontual na reposição da mercadoria em loja”, que nesta altura tem sido maior “do que o desejado”.
"Se espaços existiram onde as prateleiras se encontraram vazias de manhã, devido ao aumento de procura, da parte da tarde a maioria das lojas já apresentava normalidade. A produção de ovos não é 'industrial' e leva o seu tempo pelo que a normalidade regressará em breve, esperando-se um comportamento racional por parte dos consumidores", acrescenta o o diretor-geral da APED.
Regularização em janeiro
"A falta de ovos de ovos nas prateleiras pode ter acontecido durante o mês de dezembro, mas em janeiro não acontecerá certamente", garante o presidente da Associação Nacional dos Avicultores Produtores de Ovos.
O diretor geral da Zêzerovo concorda, salientando porém que "sendo um problema global", vai demorar "mais a normalizar". "A redução e normalização da procura, comum em janeiro, aponta para uma estabilização do mercado e redução das dificuldades de resposta", diz em resposta por escrito.
Mas olhando ainda para o ano que terminou, há bons indicadores. "Em 2022 vamos ter produção recorde de ovos. Estamos a falar de cerca de 8% de acréscimo na produção", diz Paulo Mota (ANAPO). Também no consumo se verificou "um acréscimo de 6.6%".
E a que se deve? "Na minha opinião, é colocar os ovos no sítio deles. Tem sido feito muito trabalho, de nutricionistas e não só, para explicar o benefício do consumo de ovos", responde.
"Apesar de o preço dos ovos ter aumentado, continuam a ser proteína barata comparativamente a outras. O ovo é um alimento muito versátil e isso contribui para o acréscimo do consumo dos últimos anos", salienta.
Epidemia de gripe aviária é a maior de sempre na Europa
A época epidémica de 2021-2022 de gripe aviária é a maior de sempre na Europa, alertou em outubro o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC).
Segundo os dados divulgados pelo centro europeu, a época de gripe aviária de alta patogenicidade é a “maior observada na Europa”, com um total 50 milhões de aves abatidas nos estabelecimentos afetados.
A agência europeia alertava em outubro que, além do número de casos registados, a “extensão geográfica do surto é inédita”, tendo em conta que vai desde as ilhas Svalbard, um arquipélago no Ártico que pertence à Noruega, até ao sul de Portugal e ao leste à Ucrânia, afetando 37 países da Europa.
De acordo com os dados disponibilizados pela Organização Mundial para a Saúde Animal – WOAH, entre 11 de novembro e 1 de dezembro de 2022, foram notificados 90 novos focos de infeção por vírus da gripe aviária de alta patogenicidade em aves de capoeira em 13 países, sendo a maioria detetados na Europa (73).
Já segundo os últimos da dados da Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), desde 30 de novembro de 2021 têm sido confirmados pelo Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (laboratório nacional de referência para as doenças dos animais) vários focos de infeção por vírus da gripe aviária de alta patogenicidade do subtipo H5N1 em aves domésticas e selvagens.
Desde novembro de 2021, esclarece a DGAV ao SAPO24, foram registados 32 focos — 10 em estabelecimentos avícolas comerciais, 9 em capoeiras domésticas e outras aves em cativeiro e 13 em aves selvagens —, afetando cerca de 477 mil de aves.
O primeiro foco de gripe aviária em Portugal foi detetado em 30 de novembro de 2021, numa capoeira doméstica no distrito de Setúbal.
[Notícia atualizada a 11 de janeiro às 09h00]
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