A Sicília vive dias de tensão, sobretudo as famílias de vítimas mortas pela máfia. Alguns criminosos, muitos deles com cargos de chefia nas principais famílias mafiosas da capital da Sicília, Palermo, foram libertados nos últimos meses e agora essas mesmas famílias temem represálias dos mesmos.

Salvatore Borsellino, irmão do famosos juiz antimáfia Paolo Borsellino, morto pela Cosa Nostra em 1992, não tem dúvidas da tensão que se viverá nos próximos tempos: "A libertação da prisão de mafiosos que sempre se recusaram a colaborar com a justiça é sempre extremamente perigosa. É um golpe fatal na luta contra a máfia", assinala.

Mais testemunhas apelam também à luta contra a máfia, como Nino Morana Agostino, sobrinho do polícia Nino Agostino, morto a tiro em 1989. "Não podemos baixar a guarda na luta contra a máfia ou subestimá-la. Os mafiosos que foram condenados a prisão perpétua e que agora regressam à liberdade com liberdade condicional ainda guardam segredos pesados ​​sobre assassinatos não resolvidos da máfia, que se recusaram a confessar. É por isso que a sua libertação envia um mau sinal", disse ao jornal La Repubblica.

Também o procurador-geral de Palermo, Maurizio de Lucia, emitiu um apelo para manter o foco na luta contra a máfia, com os investigadores a temerem a possibilidade da Cosa Nostra, após um longo período de declínio, poder tentar reorganizar a chamada Cimeira, o seu órgão de gestão.

"As recentes alterações à lei italiana permitem que chefes que nunca se retrataram das suas ações passadas e nunca testemunharam contra a máfia beneficiem da legislação por ‘bom comportamento’. As autoridades prisionais não estão a consultar os procuradores para terem uma ideia de quão perigoso pode ser o seu regresso, e simplesmente concedem-lhes o benefício. O seu regresso em massa facilitará a reorganização da Cosa Nostra. Será mais provável que a Cimeira possa agora reunir-se. Além disso, a sua presença envia uma mensagem de relativa impunidade à comunidade", refere Federico Varese, professor de criminologia.

O receio dos procuradores e das famílias das vítimas deve-se sobretudo ao facto de muitos destes chefes se recusarem a cooperar com as autoridades, o que na prática quererá dizer que pretendem continuar a pertencer à máfia.

"Estes mafiosos sairão da prisão para retomar o seu poder dentro do clã. Além disso, desfrutarão de ainda mais prestígio entre os membros da máfia e aqueles que apoiam a Cosa Nostra, porque podem gabar-se de estar na prisão sem nunca falar ou nomear outros membros", diz Salvatore Borsellino.

Por sua vez o criminologista Varese salienta que a "entrada na máfia siciliana é para toda a vida e acontece através de um ritual. No ritual, a imagem em chamas de um santo é colocada nas mãos do noviço e os membros da máfia reunidos declaram: 'Queimarás como esta imagem se trair ou tentar deixar esta organização'", referindo também que "só se pode sair com a morte ou expulsão por se tornar testemunha do estado".