"Esta peregrinação inicia um novo ciclo, marcado pela esperança. Estamos a vencer a pandemia, começamos a ter uma nova normalidade que nos convoca à responsabilidade e ao cuidados", começou por dizer D. António Marto.

"Foram tempos difíceis, [mas] ainda havemos de experimentar, porventura, muitas dificuldades: as consequências reais e efetivas da pandemia, do ponto de vista económico e social, que poderão não estar todas contabilizadas. Mas devemos olhar o futuro com esperança", acentuou.

Para o bispo de Leiria-Fátima, "um dos ensinamentos desta pandemia foi a cultura do cuidado, de cuidarmos uns dos outros".

"Por isso, fica uma palavra de muita gratidão a todos quantos salvaram vidas e permitiram que os doentes, os idosos, os que perderam emprego e deixaram de ter meios de subsistência continuassem vivos. Quantas pessoas carregaram e carregam cruzes para ajudar os outros, se sacrificam para ajudar os que precisaram e precisam. Para esses deve voltar-se a nossa gratidão e [devemos] tomá-los como exemplo", afirmou.

D. António Marto deixou também uma palavra sobre as vítimas da pandemia. "Queremos recordar também, naturalmente, nesta peregrinação, todos os que morreram com a doença covid-19 e os seus familiares em luto".

Sobre a peregrinação que hoje começa, o bispo lembrou que o Santuário já vai ter "um novo colorido". "Estamos longe de outros tempos, mas perto de uma nova realidade que, vivida com responsabilidade, cuidado e resiliência, há-de ser igualmente boa. Confiemos!", apontou.

Também presente na conferência de imprensa, o reitor do Santuário, o Pe. Carlos Cabecinhas, referiu que este ano, "ainda profundamente marcado pela pandemia", o Santuário "registou, entre janeiro e setembro, mais de um milhão e 300 mil peregrinos que participaram nas celebrações do programa oficial ou noutras celebrações que aqui tiveram lugar".

"Quando comparamos um milhão e 300 mil com os seis milhões habituais, estamos muito longe desse número e dessa normalidade", reconheceu, ressalvando a existência de "sinais positivos".

"A três meses e meio do final do ano, 2021 regista já alguma recuperação em relação àquilo que foram os números de 2020, quando, em período homólogo, tínhamos um milhão e 100 mil peregrinos presentes nas celebrações do Santuário", observou.

De acordo com Carlos Cabecinhas, "este ano já registou alguma recuperação até ao momento".

"Se tivermos em conta os números totais do ano passado, que rondaram um milhão e 400 mil peregrinos, podemos antever números de maior afluência na sequência de uma maior abertura do país e do mundo", acrescentou, referindo, igualmente, que os grupos organizados começaram a regressar a Fátima.

O sacerdote admitiu que "o caminho vai ser longo, mais longo" do que o Santuário gostaria, mas expressou "confiança na progressiva recuperação do número de peregrinos".

A Peregrinação começa esta noite, dia 12, às 21h30, com o Rosário internacional, na Capelinha das Aparições, seguido de Procissão das Velas e Celebração no Altar do Recinto de Oração. Amanhã, 13 de outubro, às 9h00, reza-se o Rosário internacional na Capelinha das Aparições e, às 10h00, há a Missa internacional, com a Palavra ao Doente e procissão do Adeus no altar do recinto.

O Santuário alivia já as regras de combate à pandemia no que diz respeito à lotação do recinto, mas os cuidados com a higienização das mãos, distanciamento e uso de máscara são mantidos.

Um Sínodo que assinala o fim de uma Igreja "centrada no poder do clero"

D. António Marto quis ainda deixar algumas palavras sobre o Sínodo que se iniciou no passado Sábado. O bispo lembrou que este é "uma caminhada sinodal de grande relevância, pela novidade que o Papa Francisco introduziu na história dos Sínodos: desenhou um novo itinerário em três fases — diocesana, continental e universal —, um novo método de escuta uns dos outros e de discernimento comunitário da complexidade do nosso tempo, em ordem a descobrir novos percursos pastorais e nova linguagem para a missão da Igreja".

"Este processo sinodal marcará, assim o esperamos, a passagem de um modelo de Igreja clerical, centrada no poder do clero, para um modelo da Igreja sinodal, baseada na corresponsabilidade de todos os fiéis e na sua participação e auscultação. Este é o modo de viver e agir que Deus espera da Igreja no terceiro milénio, como diz o Papa", acentuou o cardeal.

Assim, "o objetivo do Sínodo não é produzir propriamente documentos, inspira-nos antes a sermos uma Igreja outra, diferente, centrada em Jesus, estimuladora de confiança, predisposta a sanar feridas, a tecer novas e profundas relações, a construir pontes, iluminar consciências e envolver todos — uma Igreja inclusiva: mulheres, deficientes, refugiados, migrantes, idosos, pobres, ricos, jovens, adultos; batizados ou mesmo pessoas de boa vontade, que não são membros da Igreja ou, porventura, não sejam crentes".

"Este é um momento crucial para a Igreja no mundo. Alegra-me o entusiasmo que o Sínodo está a suscitar, não desconhecendo, naturalmente, focos de resistência. Ninguém pode faltar à chamada que o Papa dirige a todos", frisou D. António Marto.

A pedofilia em França é "uma situação de luto para a Igreja"

O bispo de Leiria-Fátima referiu ainda o relatório que foi divulgado recentemente, que dá conta de 216 mil crianças que foram abusadas por clérigos franceses, desde 1950.

"Nos últimos dias assistimos a uma notícia, do conhecimento público, que nos cobre de vergonha, que é a pedofilia na Igreja em França. Eu faço meus os sentimentos e minhas as próprias palavras do Papa Francisco. A dor, tristeza, a vergonha. Citando o profeta Daniel: 'Em vós, Senhor, encontra-se a justiça; sobre nós recai a vergonha que sentimos no nosso rosto'", começou por dizer.

Referindo que é necessário "realizar todos os esforços a fim de que tais dramas não se possam repetir", D. António Marto deixou ainda outra nota, acrescentar à reação do Papa. "É uma situação de luto para a Igreja, nestes dois aspectos de que se reveste: um luto para interiorizar tudo o que significa esta chaga no coração da Igreja, mas também para olhar para o futuro com um olhar novo. É uma tarefa árdua, reconstruir a dignidade e a esperança num novo caminho", atirou.

O cardeal lembrou ainda o Papa Emérito, Bento XVI, quando em 2010 fez a sua peregrinação a Fátima, e foi interpelado sobre este assunto. "A sua resposta tem palavras muito fortes e cito: 'a novidade que podemos descobrir hoje nesta mensagem [de Fátima] reside também no facto de que os ataques ao Papa e à Igreja vêm não só de fora, mas que os sofrimentos da Igreja vêm justamente do interior desta, do pecado que existe na Igreja. Também isto sempre foi sabido, mas hoje o vemos de um modo realmente terrificantes'".

D. António Marto lembrou ainda que "a Igreja está disposta a olhar e a realizar com determinação todos os esforços necessários para pôr fim a estes dramas", tomando conta das vítimas, ao nível do "apoio humano, psicológico, espiritual, de reparação".

"Todas as ações [necessárias] para o reconhecimento da verdade deverão ser feitas", rematou.

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