"Cada vez que se avança para a igualdade, por meio centímetro que seja, existem logo boas almas que imediatamente alertam que podemos cair no excesso", afirmam as signatárias de um texto publicado no site francetvinfo.
Trata-se de uma resposta à manifestação divulgada, esta terça-feira, dia 9, no jornal francês Le Monde, no qual um grupo de mulheres visa o "puritanismo" como uma das consequências do escândalo do produtor de cinema americano Harvey Weinstein.
"Na França, todos os dias, milhares de mulheres são vítimas de assédio. Milhares de agressões sexuais. E centenas de violações", recorda o novo grupo formado por cerca de trinta mulheres, entre elas a militante feminista francesa Caroline de Haas e várias jornalistas.
Para elas, as mulheres que assinaram o texto publicado no Le Monde, "misturam deliberadamente uma relação de sedução baseada no respeito e prazer com a violência", para além de considerarem que a maior parte das personalidades citadas no jornal francês são "reincidentes em termos de defesa de criminosos pedófilos ou apologia da violação e utilizam a sua visibilidade mediática para banalizar a violência sexual". Finalmente, consideram que as 100 signatárias da carta "desprezam o facto de que milhões de mulheres sofrem ou tenham sofrido este tipo de violência".
Em março de 2017, Deneuve, de 74 anos, gerou polémica ao defender na televisão o cineasta Roman Polanski, acusado de ter violado uma menor há mais de 40 anos nos Estados Unidos, afirmando que este não sabia que a jovem tinha 13 anos.
"[Ele] sempre gostou de meninas novas. Sempre achei que a palavra 'violação' era excessiva", revelou Deneuve.
Na resposta de hoje, as suas signatárias enfatizaram que a carta assinada por Deneuve — e restantes mulheres — é uma forma de "voltar a impor o tabu que começamos a levantar". Mas avisam: "não conseguirão".
Referindo-se ao movimento que nasceu na França, o #Balancetonporc (em tradução livre será algo parecido com "Denuncia o teu porco", sendo o movimento similar ao #MeToo), o grupo concluiu que "os porcos e os seus aliados têm motivos para se preocupar. O seu velho mundo está a desaparecer".
"Este é um artigo para defender o direito de agredir sexualmente as mulheres e para insultar as feministas", denunciou ainda Caroline de Hass.
A carta que originou a resposta
“A violação é um crime. Mas tentar seduzir alguém insistentemente ou de forma desajeitada não o é, nem o cavalheirismo é uma agressão machista”, afirmam no jornal Le Monde uma centena de atrizes, escritoras, investigadoras e jornalistas. Consideram, ainda, "legítima" a "consciência sobre a violência sexual exercida contra as mulheres, sobretudo no âmbito profissional".
Mais: são da opinião que este tipo de discurso que está a ser atualmente utilizado tem um pendor contraditório: "somos intimadas a falar como se deve, a silenciar o que irrita, e aqueles que se recusam a cumprir tais injunções são considerados traidores, cúmplices!"
Alegam ainda que há homens que foram "punidos no exercício da sua profissão, obrigados a se demitir, quando o seu único erro foi ter tocado num joelho, tentado roubar um beijo, falar de coisas 'íntimas' durante um jantar de negócios, ou ter enviado mensagens de conotação sexual a uma mulher que não sentia uma atração recíproca", asseguram, falando de uma "onda puritana".
O artigo considerado antifeminista provou reações logo no dia da sua publicação.
[Artigo atualizado às 18:30]
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