Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, falava no 22º Congresso Nacional do PS, na Batalha, distrito de Leiria.
Numa referência implícita aos casos que envolvem o antigo primeiro-ministro José Sócrates, Ferro Rodrigues declarou: “Não aceitamos que apaguem a memória, não permitiremos que processos judiciais sejam usados para a criminalização de políticas ou para culpar pessoas através de lógicas abusivas de associação”.
“Isso é próprio de regimes totalitários”, disse.
Neste ponto, o presidente da Assembleia da República considerou que “a política de prevenção e combate à corrupção está no ADN do PS” e da liderança partidária de António Costa.
“Temos um património nesse domínio. Um património traduzido em leis e em meios de investigação. Estão em discussão várias iniciativas nessa frente, e o PS não deixará uma vez mais de liderar esse debate”, advogou.
Na sua intervenção, o antigo secretário-geral do PS defendeu também a existência de uma tradição reformista no seu partido e referiu que há dois anos, quando se realizou o último Congresso do seu partido, “ainda subsistiam algumas dúvidas acerca da sustentabilidade dos acordos que permitiram aos socialistas formar Governo”.
“É caso para dizer que primeiro estranhou-se, depois entranhou-se. A própria evolução das forças mais à direita do espectro partidário é a maior demonstração da forma como esta solução política liderada pelo PS se impôs. Não me interessa muito saber se isso se deveu a viragens à esquerda ou à direita do PS”, afirmando, referindo-se desta forma ao debate ideológico em curso no seu partido.
Para Ferro Rodrigues, o PS prossegue “fiel à sua matriz socialista e europeia: Ema política de recuperação de direitos e rendimentos compatível com os nossos compromissos no quadro da zona euro”.
“Estamos onde sempre estivemos, e onde está a esmagadora maioria dos portugueses, em defesa dos direitos sociais e da integração europeia de Portugal. É esse o segredo do sucesso desta solução de Governo, a fidelidade de cada um à sua identidade, a convergência na política económica e social”, sustentou.
No entanto, Ferro Rodrigues advertiu os delegados socialistas para os sinais que já existem no que respeita a “movimentos inorgânicos e até de uma certa degradação do debate no espaço público e não apenas na política” – aqui uma referência indireta ao futebol.
Uma democracia, avisou o presidente do parlamento, “não sobrevive sem lealdade entre adversários e sem comunicação entre diferentes pontos de vista”.
“Infelizmente, emerge hoje uma nova lógica política assente na violência verbal, na cultura de tribo, no desprezo pelo conhecimento que tem de ser travada”, criticou.
Para o secretário-geral do PS o principal desafio da nova geração de socialistas é responder “a política do medo e do ódio com a política da esperança e da solidariedade”.
“Ao regresso da ameaça autoritária deve corresponder o regresso da política democrática. A resposta à ascensão da extrema-direita não se faz com cedências ao populismo, mas também não se faz certamente com mais políticas antipopulares”, acrescentou.
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