"Tchizé e os irmãos querem que se respeite a vontade do pai, que é não ser enterrado em Angola, mas sim em Espanha, porque não quer que o atual Presidente da República utilize o seu enterro com fins políticos", disse Carmen Varela à Lusa acrescentando que, para além disso, um enterro em Angola impossibilitaria o último adeus de vários familiares próximos, já que alguns dos filhos "não podem entrar em Angola e nem sequer têm passaporte angolano".
A advogada que representa uma das filhas do antigo Presidente de Angola José Eduardo dos Santos, que faleceu hoje depois de duas semanas internado numa clínica privada em Barcelona, confirmou que foi interposta uma providência cautelar no tribunal para que o corpo não seja trasladado para Angola e revelou que "a clínica Teknon disse-nos que o corpo não vai sair da clínica enquanto não houver ou uma ordem judicial ou um acordo entre todos os filhos".
Para já, a advogada requereu a realização de uma autópsia, e estava esta tarde a caminho de Barcelona, não só para realizar as diligências necessárias, mas também porque ela própria irá ser operada na mesma clínica, admitindo, aliás, estar "um pouco preocupada por ser operada na Teknon para a semana".
Carmen Varela argumenta que "José Eduardo dos Santos já não era diplomata, a sua residência era Barcelona, e os únicos que têm decisão sobre o local do enterro são os filhos, já basta de manipulações políticas".
Questionada sobre se existe algum documento onde essa vontade de José Eduardo dos Santos esteja expressa, a advogada disse que não viu esse documento, mas afirmou que foi entregue no tribunal uma declaração dos filhos onde essa vontade do pai está registada.
"Nem os ministros nem o Presidente podem passar por cima do desejo da família, a família não vai autorizar nenhum enterro em Angola porque os filhos do primeiro casamento não podem entrar em Angola e querem despedir-se do seu pai de forma livre em Espanha", salientou, concluindo que forçar a trasladação para Luanda seria "uma violação dos direitos humanos da família".
José Eduardo dos Santos morreu hoje aos 79 anos numa clínica em Barcelona, Espanha, após semanas de internamento, anunciou hoje a presidência angolana, que decretou cindo dias de luto nacional.
O antigo Presidente da Angola estava há duas semanas internado nos cuidados intensivos de uma clínica em Barcelona.
Neste período, a filha Tchizé dos Santos apresentou uma queixa junto da polícia da Catalunha, argumentando que o antigo chefe de Estado de Angola não estava a ter os cuidados que considerava adequados.
Segundo disse então à Lusa a advogada que representa a angolana, Carmen Varela, a queixa visava investigar alegados crimes de tentativa de homicídio, omissão do dever de assistência, ferimentos devidos a negligência grosseira e revelação de segredos por pessoas próximas".
Segundo disse também à Lusa uma fonte próxima da família, Tchizé dos Santos queria afastar Ana Paula dos Santos, ex-mulher de José Eduardo dos Santos e mãe de três dos seus filhos, e impedir que fossem desligadas as máquinas que mantinham vivo o ex-presidente.
Tchizé dos Santos acusou também nos últimos dias o atual chefe do executivo, João Lourenço, de estar a fazer uma gestão política do caso.
O governo angolano anunciou hoje a criação de uma comissão do Estado para organizar a cerimónia fúnebre do ex-Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, que integra 11 ministros e a governadora de Luanda.
A realização da cerimónia fúnebre não é consensual, já que as filhas mais velhas de José Eduardo dos Santos não querem regressar a Angola, por enfrentarem processos judiciais ou por alegadamente correrem risco de vida.
Um outro filho, José Filomeno “Zenu” dos Santos, foi condenado a uma pena de prisão no âmbito de um processo de corrupção, aguardando em liberdade o recurso que interpôs, e disse recentemente que o seu passaporte estava a ser retido pela autoridades angolanas.
José Eduardo dos Santos, 79 anos, é pai de oito filhos com cinco mulheres e esteve à frente dos destinos de Angola durante 38 anos.
Eduardo dos Santos governou Angola entre 1979 e 2017, tendo sido um dos Presidentes a ocupar por mais tempo o poder no mundo e era regularmente acusado por organizações internacionais de corrupção e nepotismo.
Em 2017, renunciou a recandidatar-se e o atual Presidente, João Lourenço, sucedeu-lhe no cargo, tendo sido eleito também pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que governa no país desde a independência de Portugal, em 1975.
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