"Lamentavelmente, a Gâmbia apresentou ao Tribunal uma fotografia incompleta e enganosa da situação no estado de Rakhine", declarou Aung San Suu Kyi numa audiência na qual defende os interesses da Birmânia, país acusado de genocídio.
A atual Conselheira de Estado — cargo semelhante ao de Primeiro-Ministro — da Birmânia, encabeça a delegação do país no Tribunal Internacional de Haia para defendê-lo das acusações de genocídio contra a minoria étnica dos Rohingya.
Perante um conjunto de 17 juízes, Aung San Suu Kyi culpou a violência verificada no estado de Rakhine num grupo de separatistas, mostrando documentos em tribunal onde diz provar que as primeiras agressões foram provocadas pelo Exército de Salvação dos Rohingya de Arracão e que as forças de segurança da Birmânia limitaram-se a responder a esses ataques.
A líder birmanesa admitiu que o exército pode ter feito um uso desproporcional da força, mas afirmou que isto não é prova de que estava a tentar aniquilar esta minoria.
"Certamente, nestas circunstâncias, a tentativa de genocídio não pode ser a única hipótese", completou a vencedora do prémio Nobel da Paz de 1991 diante dos juízes.
As audiências do caso começaram na terça-feira e vão continuar até a quinta-feira no TIJ, em Haia, na Holanda.
As forças armadas de Myanmar começaram uma dura campanha de contra insurgência no estado de Rakhine em agosto de 2017, em resposta a um ataque de uma milícia rebelde rohingya.
Cerca de 800.000 rohingya fugiram para o Bangladesh para escapar de uma alegada campanha de limpeza étnica envolvendo violações em massa, assassínios e queima de casas por parte dos militares birmaneses.
A Gâmbia, um país da África Ocidental, interpôs o caso diante do TIJ em nome da Organização de Cooperação Islâmica.
Aung San Suu Kyi defendeu hoje a ação do exército do seu país contra a minoria muçulmana, apesar das acusações de genocídio.
"Medidas de segurança foram implementadas na zona de conflito", disse a conselheira e ministra da Birmânia a um painel de 17 juízes, assegurando que "em seu país as violações de direitos humanos não são toleradas".
Suu Kyi definiu como "conflito armado interno" os confrontos no estado de Rakhine, no oeste do país, e descreveu vários ataques a esquadras de polícia, que teriam como alvo milhares de agentes.
Nesse sentido, explicou que o termo "operações de limpeza" usado pelos militares para ações de resposta em Rakhine "foi distorcido" porque "na língua da Birmânia significa" libertação de localidades em busca de terroristas".
Segundo Suu Kyi, o tribunal superior da ONU não deve intervir porque a Birmânia já criou tribunais para as ações mais controversas do Exército.
"Se os militares cometeram crimes, serão processados pela justiça militar, como diz a Constituição de Myanmar", afirmou.
"Como pode haver uma tentativa de genocídio, se essas medidas foram implementadas em Rakhine?", questionou a conselheira de Estado.
A Gâmbia apresentou na terça-feira, com o apoio dos 57 países da Organização para a Cooperação Islâmica, a denúncia contra a Birmânia com base na Convenção do Genocídio e apelou à implementação de medidas de precaução para proteger os rohingya.
"Pedimos ao tribunal que não os aplique porque podem agravar o conflito", alertou Suu Kyi.
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