O bispo Américo Aguiar, presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023, está certo de que esse gesto acontecerá, embora ainda não seja conhecido, sendo por muitos esperada a realização de um encontro pessoal de Francisco com alguns dos abusados por membros do clero nas últimas décadas.

“O Papa, tal como aconteceu noutras deslocações e noutros contextos, estou certo que também vai ter um gesto, uma decisão, um encontro, outra coisa qualquer no que diz respeito à temática dos abusos, certamente”, disse Américo Aguiar em entrevista à agência Lusa, não adiantando mais pormenores.

Segundo o bispo responsável pela organização do encontro mundial de jovens com o Papa em Lisboa, esse gesto deve ser conhecido “dentro de dias”, quando for divulgada a agenda do pontífice para os dias em que estará em Portugal – de 02 a 06 de agosto.

No final da Assembleia Plenária extraordinária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) para analisar o relatório da Comissão Independente para o Estudos dos Abusos Sexuais de Menores na Igreja Católica em Portugal, foi anunciado que “será realizado um memorial no decorrer da Jornada Mundial da Juventude e perpetuado, posteriormente, num espaço exterior da Conferência Episcopal Portuguesa”.

Questionado sobre este processo, Américo Aguiar remeteu para o presidente da CEP, José Ornelas, que “a seu tempo”, partilhará “com todos” a decisão tomada.

Sobre a questão dos abusos, o bispo auxiliar de Lisboa prefere sublinhar o protocolo estabelecido entre a Fundação JMJ Lisboa 2023 e a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), “que está a trabalhar (…) na preparação e prevenção com os (…) voluntários e trabalhadores” da Jornada.

A APAV “vai fazer formação dos voluntários, chefes de equipa de voluntários, vai estar connosco durante a Jornada e vai estar algum tempo a trabalhar connosco no pós-Jornada, não no foco fechado da questão dos abusos de menores, mas, infelizmente, em toda a possibilidade daquilo que significa a existência de vítimas num encontro com tanta e tanta e tanta gente”, afirmou Américo Aguiar.

Questionado sobre eventuais protestos de setores insatisfeitos com a resposta da Igreja aos casos de abusos de menores, o prelado assegura que não relativiza a questão, mas põe o foco nas ações tomadas.

“Não, não relativizo. Absolutamente. O que eu tenho dito, e repito, é que a Igreja está a fazer o que deve fazer. Podemos refletir sobre os ‘timings’, as circunstâncias e o não ser visível, todas essas coisas. Agora, o que foi feito tinha de ser feito e o que está a ser feito deve ser feito e continuar a ser feito”, afirmou o bispo.

Para Américo Aguiar, a Igreja foi capaz, “com mais ou menos imediatez, colocar as vítimas no lugar que lhes é devido” e recorre a palavra do Papa para sublinhar que, nestes casos, “a dor não prescreve”.

“Temos de ter consciência, todos, (…) que a dor de quem vive uma coisa destas não prescreve. E dói-me muito que ainda hoje, (…) vamos a um jornal (…) e isto continua a acontecer. Isto continuar a acontecer significa que nós, Igreja, nós, sociedade, nós, cidadãos ainda não fomos capazes” de impedir que continuem a ocorrer casos de abuso.

A tolerância zero e a transparência total pedidas pelo Papa, “tem de se efetivar definitivamente. (…) A mim não me preocupa (…) a notoriedade, o ruído em volta da jornada ou fora da jornada ou na igreja. Preocupa (...) essas pessoas terem vivido isso”, acrescentou.

Ao longo de quase um ano, a Comissão Independente liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, validou 512 dos 564 testemunhos recebidos, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de vítimas da ordem das 4.815. O período em análise foi balizado entre 1950 e 2022.

Na sequência destes resultados, algumas dioceses afastaram cautelarmente do ministério alguns padres.

Entretanto, após a cessação do trabalho desta Comissão, a CEP criou o Grupo VITA - Grupo de Acompanhamento das situações de abuso sexual de crianças e adultos vulneráveis no contexto da Igreja Católica em Portugal, liderado pela psicóloga Rute Agulhas.

Este organismo tem um horizonte temporal de funcionamento de três anos, com “a missão de acolher, escutar, acompanhar e prevenir as situações de abuso sexual de crianças e adultos vulneráveis no contexto da Igreja em Portugal, dando atenção às vítimas e aos agressores”, segundo a CEP.

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