“A democracia não é inevitável. Nós temos de a defender. Ela deve ser alimentada e sustentada”, afirmou Henrique Gouveia e Melo, em Porto de Mós, Leiria, no âmbito da conferência “O mundo dividido entre autocracias e democracias”, integrada num ciclo no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.

Segundo o almirante, “se as democracias falharem em apresentar argumentos convincentes sobre a importância das liberdades políticas ou se os cidadãos ficarem desiludidos com a forma como são governados, uma nova geração de autocratas estará muito disposta a intervir e tomar as rédeas do poder. Se tiverem sucesso, o mundo tornar-se-á mais violento, corrupto e perigoso para viver”, avisou.

De acordo com Gouveia e Melo, “o avanço de regimes autocráticos tem gerado preocupações quanto ao enfraquecimento das instituições democráticas, a erosão dos direitos civis e a ameaça à liberdade de imprensa”, notando que, num “reflexo da mudança do equilíbrio do poder financeiro, as autocracias estão cada vez mais a financiar as democracias, o que é preocupante, com as economias ocidentais dependentes dos fluxos de capital das economias chinesas e do Golfo Pérsico”.

Em relação ao nosso país, o chefe do Estado-Maior da Armada acrescentou: “Portugal, enquanto Estado-nação, pequeno e limitado no seu poder relativo no concerto das nações, deverá ter, na formulação das suas políticas, em consideração que o mundo não está nem parece caminhar para a paz global”, sendo que “nenhum sistema legal internacional, ‘per se’, protegerá integramente os interesses portugueses”.

“Portugal não estará livre de ser arrastado, face às coligações a que pertence, à posição e ao espaço que ocupa geograficamente e aos seus interesses, para uma zona mais central e quente do conflito” entre os dois blocos, acrescentou.