Com uma linguagem direta e longe do “politicamente correto”, os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio de Janeiro, o ex-juiz federal Wilson Witzel, que assumiram os respetivos cargos em janeiro, prometeram não dar trégua “aos bandidos” durante o mandato.
“Se o bandido reagir, não vai para a esquadra da polícia ou para a prisão, vai para o cemitério”, disse Doria, um empresário e ex-autarca de São Paulo.
Doria, um político novato, endureceu o seu tom e deu mais um passo à direita nas fileiras do Partido Social Democracia Brasileira (PSDB, centro), onde ingressou há alguns anos para disputar a autarquia da maior cidade do Brasil.
“A polícia vai atirar para matar”, disse Doria, durante a campanha eleitoral, frase semelhante à usada pelo governador do Rio de Janeiro, que também tem a intenção de combater com firmeza a escalada da violência que sufoca o mais emblemático estado do país.
A guerra entre grupos criminosos rivais e milícias, além da violência policial, fizeram o Rio de Janeiro entrar numa grave crise de segurança pública que só em 2017 provocou 6.731 mortos, de acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP).
Para combater o crime, o ex-juiz federal, do Partido Social Cristão (PSC), defende que atiradores de elite da polícia matem os criminosos que carregam armas nas favelas da região ou em centros comerciais das áreas nobres da capital do estado.
“Se houver um bandido com uma espingarda no ‘shopping’ do Leblon, não tenha dúvidas, será morto imediatamente. E na favela não podemos permitir que isso continue e que tenhamos os habitantes daquela região encurralados, sofrendo com pessoas com espingarda, com uma arma de guerra ao seu lado”, disse Witzel, poucos dias depois de tomar posse.
A proposta foi rapidamente condenada por diversas organizações de direitos humanos, como a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch, que em diversas ocasiões questionaram a letalidade da polícia brasileira, especialmente a do Rio de Janeiro.
Segundo dados do ISP, a polícia do Rio de Janeiro matou 1.444 pessoas entre janeiro e novembro de 2018 – dos 5.144 casos registados em todo o Brasil — o que supõe o maior número de mortes cometidas por agentes desde que o estado começou a recolher dados em 1988.
A luta contra a criminalidade, no entanto, converteu-se na bandeira de vários governadores do Brasil e do próprio Bolsonaro, que esta semana cumpriu uma das suas promessas de campanha ao assinar o decreto que flexibiliza a compra de armas no Brasil.
O objetivo da medida, segundo o Presidente, é “iniciar o processo para assegurar o direito inviolável à legítima defesa” no país, que em 2017 registou o recorde de 63.880 homicídios, com uma taxa de 30,8 por cada 100.000 habitantes.
A flexibilidade na posse de armas, advertiu Bolsonaro, é só o começo da sua luta para “oferecer medidas eficientes para a segurança pública”.
A crescente preocupação em relação à segurança no Brasil também jogou um papel importante nas eleições e, a partir de fevereiro, quando se instalar o novo Congresso, o número de deputados e senadores identificados como polícias e militares será quatro vezes maior do que na anterior legislatura.
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