Em declarações aos jornalistas à porta das consultas externas no Hospital São José, em Lisboa, o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Jorge Paulo Roque da Cunha, disse que os primeiros dados de adesão à greve se prendem fundamentalmente com os blocos operatórios, vão no sentido do que os sindicatos previam e demonstram “o grande descontentamento que existe entre os médicos”.
Segundo Roque da Cunha, estão encerrados todos os blocos operatórios de Faro e Portimão, no Algarve, em São José e Santa Maria (Lisboa). No Hospital de São João e em Matosinhos, no Porto, está apenas um bloco a funcionar.
Em relação às consultas externas, o dirigente sindical disse que ainda é cedo para ter um ponto de situação, uma vez que decorrem ao longo do dia, mas os dados preliminares das unidades de saúde familiar (USF) e das consultas externas dos hospitais apontam para um número muito próximo dos 80% de adesão.
Os médicos iniciaram hoje às 00:00 três dias de greve nacional, uma paralisação que os sindicatos consideram ser pela “defesa do Serviço Nacional de Saúde”.
A reivindicação essencial para esta greve de três dias é “a defesa do SNS” e o respeito pela dignidade da profissão médica, segundo os dois sindicatos que convocaram a paralisação – o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e a Federação Nacional dos Médicos (FNAM).
Em termos concretos, os sindicatos querem uma redução do trabalho suplementar de 200 para 150 horas anuais, uma diminuição progressiva até 12 horas semanais de trabalho em urgência e uma diminuição gradual das listas de utentes dos médicos de família até 1.500 utentes, quando atualmente são de cerca de 1.900 doentes.
Entre os motivos da greve estão ainda a revisão das carreiras médicas e respetivas grelhas salariais, o descongelamento da progressão da carreira médica e a criação de um estatuto profissional de desgaste rápido e de risco e penosidade acrescidos, com a diminuição da idade da reforma.
Depois de duas greves nacionais em 2017, os médicos paralisam este ano pela primeira vez, com os sindicatos a considerar que o Governo tem sido intransigente e tem desperdiçado as oportunidades de diálogo com os sindicatos.
A paralisação nacional de três dias, que termina às 24:00 de quinta-feira, deve afetar sobretudo consultas e cirurgias programadas, estando contudo garantidos serviços mínimos, como as urgências, tratamentos de quimioterapia, radioterapia, transplante, diálise, imuno-hemoterapia, cuidados paliativos em internamento.
Federação de Médicos acusa ministro de cinismo político
O presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) acusou hoje o ministro da Saúde de “cinismo político puro” por afirmar que compreende as reivindicações dos médicos, mas que não se pode resolver tudo de uma vez.
João Proença sublinhou que o ministro da Saúde “não faz nada porque objetivamente não quer fazer nada”.
“Quem está no poder exerce-o como facto ou então não se pode desculpar com mais nada”, disse João Proença em declarações aos jornalistas junto às consultas externas do hospital São José,em Lisboa, no primeiro de três dias de greve nacional de médicos.
O dirigente da FNAM comentava declarações de segunda-feira do ministro Adalberto Campos Fernandes que disse que respeitava os sindicatos e a greve, mas acrescentou que "se os profissionais têm razão na maior parte das coisas que pedem” cabe ao Governo governar, sendo que não se pode resolver tudo ao mesmo tempo e o SNS tem que perdurar “por mais 10, 15 ou 20 anos e em boas condições”.
Por seu lado, o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) acusou o ministro da Saúde de “fugir da realidade” e das negociações com os sindicatos.
“O que queremos dizer ao Dr. Adalberto é: por favor não seja Centeno”, afirmou Roque da Cunha, numa alusão a Mário Centeno, ministro das Finanças.
O presidente da Federação Nacional dos Médicos comentou ainda as declarações do Presidente da República sobre a greve dos médicos, depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter dito na segunda-feira que a paralisação faz parte da "legalidade da vida democrática".
"É normal ouvir isso por parte de um constitucionalista. Era melhor que 44 anos após o 25 de Abril não se pudesse dizer que não se pode fazer greve, mas que há limitações à situação de greve, há", disse João Proença.
O dirigente da FNAM referiu-se a casos de internos de medicina geral e familiar que "foram obrigados a fazer trabalho para boicotar a greve, nomeadamente em Lisboa e no Algarve".
Para hoje à tarde, a FNAM agendou uma concentração em frente do Ministério da Saúde, em Lisboa.
(Notícia atualizada às 11h16)
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