Os números e o “Manual de Prevenção de Violência Sexual Contra Crianças e Adultos vulneráveis no Contexto da Igreja Católica em Portugal” vão ser conhecidos a partir das 15:30, numa conferência de imprensa em Lisboa, mas a psicóloga Rute Agulhas antecipa que é preciso aumentar o conhecimento neste domínio.
“Sabemos muito sobre violência sexual em geral, mas sabemos pouco sobre a violência sexual neste contexto específico da Igreja. É preciso conhecer melhor as especificidades neste contexto”, disse à Lusa.
Sem querer adiantar muitos pormenores sobre o manual — cujo mote é “Conhecer, prevenir, agir — Para uma cultura de cuidado e proteção” -, a coordenadora do grupo Vita salienta que este trabalho é o resultado de uma reflexão conjunta dos grupos executivo e consultivo, da experiência profissional nesta área e de uma extensa revisão da literatura existente sobre violência sexual.
Segundo Rute Agulhas, entre os 10 mandamentos estão a importância de quebrar o tabu; a importância de criar ambientes seguros e protetores através de códigos de conduta e boas práticas; a definição de políticas e canais de denúncia; e saber escutar as vítimas.
A coordenadora do Grupo Vita acrescenta que o manual — que deve ser disponibilizado hoje também online – tem como objetivo “sistematizar as boas práticas”, embora não seja imposto qualquer timing ou metodologia para a sua implementação nas estruturas e nos organismos ligados à Igreja Católica em Portugal.
“Não há imposições de timing, porque há ritmos e caminhos diferentes neste contexto da prevenção da violência sexual entre as diversas instituições. A ideia é cada estrutura olhar para o manual e adaptar de acordo com o seu contexto e a sua atividade”, explica.
O Grupo Vita vai fornecer ainda os dados dos primeiros seis meses de atividade desde que entrou em funcionamento em maio. Segundo o balanço mais recente, avançado no final de outubro, a estrutura já tinha recebido 62 pedidos de ajuda de vítimas de violência sexual na Igreja, existindo 12 pessoas com apoio psicológico e outras duas com apoio psiquiátrico.
O Grupo Vita pode ser contactado através da linha de atendimento telefónico (91 509 0000) ou do formulário para sinalizações, já disponível no ‘site’ www.grupovita.pt.
Criado em abril, no âmbito da Conferência Episcopal Portuguesa, assume-se como uma estrutura isenta, autónoma e independente e visa acolher, escutar, acompanhar e prevenir as situações de violência sexual de crianças e adultos vulneráveis no contexto da Igreja Católica.
O Grupo Vita surgiu na sequência do trabalho da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, que ao longo de quase um ano validou 512 testemunhos de casos ocorridos entre 1950 e 2022, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de 4.815 vítimas.
Comentários