"Tudo está paralisado", afirmou o diretor-executivo da Duncan Toys Company, que tem um depósito no estado de Indiana.

Com seus produtos agora sujeitos a uma tarifa severa de 145%, disse que já parou de importar mercadoria para os Estados Unidos.

Quase 100 dias depois da volta de Trump à Casa Branca, as empresas americanas lutam para se adaptar à transformação na política comercial.

A indústria de brinquedos, avaliada em 40 mil milhões de dólares e que depende, em grande medida, da produção na China, foi gravemente afetada, constataram empresas do setor à AFP.

Dos mais de  17 mil milhões de dólares em brinquedos importados para o território americano no ano passado, mais de 13 mil milhões de dólares vieram da China.

Toda a gama de produtos da Duncan é desenhada e desenvolvida nos Estados Unidos, mas quase todos os brinquedos são montados na China, segundo Staph.

As fábricas no gigante asiático desenvolveram capacidades de produção complexas para produzir artigos como os seus ioiôs mais vendidos.

Staph explicou que a maioria das lojas de brinquedos americanas suspendeu as encomendas desde que Trump impôs novas tarifas para muitos produtos vindos da China.

A medida aumentou de 0% para 145% a taxa paga pelas empresas americanas quando importam brinquedos de fabrico chinês, de animais de peluche a bonecos de ação.

"É muito limitante", acrescentou Staph. "Como líder empresarial, após 100 dias de governo, diria que o mais difícil é a incerteza".

Admite que considera "difícil elaborar qualquer tipo de estratégia e seguir um plano" quando "as coisas mudam quase diariamente".

"Um pesadelo"

Rita Pin Ahrens, que gere três lojas de brinquedos, começou a receber, em março, "sobretaxas alfandegárias" de 15% para 25%, e prevê que aumentem para 145%.

Muitos dos milhares de itens que vende são trazidos de locais como a China ou são parcialmente fabricados lá.

No entanto, "estamos a tentar minimizar o custo para os nossos consumidores", assegurou.

Isto significou adiar as compras antes que fiquem caras demais ou ter em stock antes da entrada em vigor das tarifas. Os atrasos nas remessas também já começaram.

"Tem sido um verdadeiro pesadelo", lamentou. "Estou realmente muito preocupada se realmente vamos conseguir manter a loja".

Muitas marcas americanas são pequenas empresas com um fluxo de caixa limitado, explicou Greg Ahearn, diretor-executivo do grupo industrial The Toy Association.  Têm dificuldades para pagar as sobretaxas repentinas sobre os contentores de brinquedos que já teriam sido fabricados.

Enquanto isso, do outro lado do mundo, "a produção de brinquedos praticamente parou na China", afirmou.

"Natal difícil"

Staph, da Duncan Toys, assegura que os produtos para abastecer as lojas americanas, como Target e Walmart, para as festas de fim de ano ainda não chegaram ao país.

Normalmente, os brinquedos produzidos na primavera no hemisfério norte chegam durante o verão e começam a ser enviados no outono, quando as lojas se preparam para o frenesim das compras de fim de ano. Cerca de 90% do stock vem do exterior.

"Se isto não for solucionado entre 30 e 60 dias, será uma temporada natalina realmente difícil, com prateleiras vazias em muitos dos principais lojistas", alertou Staph.

Se as tarifas continuarem em vigor, "o preço dos brinquedos disponíveis provavelmente será o dobro ou mais do que o do ano passado", antecipou Ahearn, da Toy Association.

Embora os Estados Unidos fabriquem alguns brinquedos, muitos exigem trabalho manual e levará anos para expandir a base manufatureira local, segundo Ahearn.

O processo de moldagem por injeção para a produção em série de muitos itens, por exemplo, requer ferramentas extremamente grandes e pesadas, impossíveis de deslocar e que precisam ser instaladas do zero.

As empresas estavam preparadas para contornar a tarifa adicional de 10% que Trump impôs às importações chinesas em fevereiro pela suposta participação do gigante asiático na cadeia de abastecimento de fentanil.

No entanto, Trump a elevou para 20% em março e para 145% em abril.

Staph espera que a indústria de brinquedos consiga obter isenções.

"Os brinquedos são importantes para o desenvolvimento infantil", acrescentou Ahrens, lembrando que o setor foi isento de impostos aduaneiros durante o primeiro governo de Trump.

"Peço sinceramente ao presidente que volte a fazê-lo", afirmou.