“Os Maias” serão o eixo central da exposição “Tudo o que tenho no saco. Eça e Os Maias”, mas à sua volta vão gravitar outras obras do autor, entre crónicas, romances, contos e muitas cartas.
Serão também mostradas fotografias, pinturas, caricaturas, gravura, música da época, excertos de filmes e objetos do espólio pessoal do escritor, guardados na Casa de Tormes (propriedade da Fundação Eça de Queiroz), nunca antes mostrados em Lisboa.
Entre as peças pessoais de Eça de Queirós, que poderão agora ser vistas pelo público, contam-se a secretária pessoal do escritor, o tinteiro em latão, a palmatória de iluminação, a estante giratória e a cabaia chinesa (vestuário de mangas largas usado na China), que lhe foi oferecida pelo Conde de Arnoso.
A mostra conta ainda com obras de Paula Rego, Júlio Pomar, João Abel Manta, Raphael Bordallo Pinheiro, Raquel Roque Gameiro, Bernardo Marques, Manoel de Oliveira, João Botelho, entre outras, alusivas ao autor e à sua obra.
Organizada em colaboração com a Fundação Eça de Queiroz, a exposição está dividida em sete núcleos, o primeiro dos quais – “1888 – A Vasta máquina!” - diz respeito ao romance “Os Maias”, essa “vaste machine” (vasta máquina) “com proporções enfadonhamente monumentais de pintura a fresco, toda trabalhada em tons pardos, pomposa e vã”, como a descreveu Eça de Queirós.
O romance ficou pronto em 1881, mas só em 1888 foi publicado com o nome “Os Maias. Episódios da Vida Romântica”, tendo tido má aceitação por parte da crítica e do público, que deu pouca saída aos cinco mil exemplares postos à venda.
Só no século XX, já depois da morte do autor, é que “Os Maias” foram reconhecidos como a obra-prima de Eça de Queirós, e como um clássico da literatura em língua portuguesa.
O segundo núcleo percorre a vida e as aprendizagens do escritor antes de “Os Maias”, desde a passagem pela universidade de Coimbra, até à viagem de turista pelo Oriente, passando pelas suas estadias em Lisboa - fundamentais na sua formação literária e ideológica -, pela sua experiência jornalística em Évora, ou como funcionário em Leiria.
“Guerra ao romantismo” é o mote para o terceiro núcleo, no qual se expõe como o autor, educado no culto do romantismo, se converte ao realismo, dando-lhe corpo, em “Os Maias”, através da personagem de Alencar, poeta de valores românticos, que se torna alvo de toda a ironia de Eça.
No quarto núcleo ficam expostas algumas das pinturas que Paula Rego fez para uma série dedicada a “O Crime do Padre Amaro”, e suscita-se uma reflexão sobre Eça de Queirós – autor do romance homónimo que inspirou as pinturas -, que reclamava o caráter moralizador do realismo e cujos livros acabaram acusados de imorais.
“Olhares cruzados” é o quinto núcleo da exposição, e explora a forma como Eça fugia da objetividade que o realismo procura para expor vários olhares sobre a mesma realidade: ironia, sonho, caricatura e excesso, personificado por João da Ega, identificado como um alter-ego do próprio escritor.
A busca permanente do autor pela perfeição na arte, que o levou a proclamar “a arte é tudo – tudo o resto é nada”, e que se espelha também nas ‘toilettes dândi’ de muitas das suas personagens, é mote para o penúltimo núcleo da mostra.
O último espaço percorre a geografia biográfica e ficcional de Eça de Queirós, da América do Norte ao Próximo Oriente, do Douro ao Alentejo, deixando, contudo, claro que Portugal era o lugar que estava no seu coração e no centro das suas preocupações.
A exposição ganhou nome a partir de uma carta que Eça de Queirós escreveu ao seu amigo Ramalho Ortigão, quando o romance “Os Maias” estava praticamente terminado, na qual contava como o decidira fazer: “não só um ‘romance’, mas um romance em que pusesse tudo o que tenho no saco”.
Pegando no mote, 130 anos depois da publicação desse romance, a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu mostrar “tudo o que Eça trazia no saco”, numa exposição que estará patente até 18 de fevereiro de 2019, e que contará ainda com uma vasta programação paralela, que vai do cinema a conversas e a jantares queirosianos, entre outras iniciativas.
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