Donald Trump é acusado de abuso de poder e obstrução ao Congresso, por ter pressionado o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, para que este investigasse a atividade da família de Joe Biden, rival político do líder norte-americano, junto de uma empresa ucraniana envolvida num caso de corrupção.
No período de alegações iniciais, quarta-feira, Alan Dershowitz, um dos advogados do Presidente no julgamento do Senado, colocou a questão que define a mais recente estratégia de defesa de Trump, alegando que ele não merece ser demitido por ter agido no interesse geral da nação.
Os Democratas, hoje, reagiram, considerando que essa posição é inaceitável e comporta os riscos de poderes presidenciais ilimitados e incontroláveis.
O argumento da defesa é que os poderes presidenciais são muito latos e, por definição, qualquer ato que um Presidente cometa é sempre no interesse público.
Assim, conclui Dershowitz, se Trump pressionou o Presidente Zelenskiy, mesmo que para seu interesse pessoal, para garantir a sua reeleição nas próximas eleições presidenciais de novembro, esse gesto inclui o interesse público.
“Se o Presidente faz alguma coisa que ele pensa que o vai ajudar a ser eleito, no interesse público, isso não pode ser o tipo de ‘quid pro quo’ que resulta em ‘impeachment’”, afirmou Dershowitz, na quarta-feira.
“É incrível (…) aceitarmos que um Presidente possa fazer o que quiser para ser reeleito”, respondeu hoje Adam Schiff, o Democrata que é o principal dos sete procuradores destacados para a acusação de Trump.
“Este argumento mostra o desespero da defesa”, disse Schiff, para quem “o argumento de Dershowitz liberta um monstro ou, mais precisamente, um monarca”, argumentou o representante Democrata, referindo-se à tipologia de poder ilimitado invocado pela defesa de Trump.
Schiff comparou este caso com o processo de ‘impeachment’ de Richard Nixon, em 1974, durante o caso Watergate, para dizer que “a situação é pior do que há 50 anos”, lembrando que o então Presidente teve de resignar ao cargo para impedir o embaraço perante os senadores que o defendiam.
A defesa de Trump, hoje, voltou também a insistir na tese de que Trump estava preocupado com os elevados níveis de corrupção na Ucrânia, quando pediu a Volodymyr Zelenskiy para investigar os casos que envolviam várias empresas, incluindo a Burisma, onde trabalhou o filho de Joe Biden.
O dia de hoje é a última oportunidade para os senadores apresentarem as suas perguntas por escrito e para os Democratas apresentarem os seus argumentos a favor da audição de novas testemunhas no julgamento político.
Na sexta-feira, os senadores dos EUA irão votar para decidir se o julgamento político de Donald Trump, que decorre desde a semana passada, irá recolher depoimentos de novas testemunhas ou se passa para a fase final de votação dos dois artigos para destituição.
Os Democratas insistem na necessidade de ouvir novas testemunhas, nomeadamente o ex-conselheiro de segurança nacional John Bolton e o chefe de gabinete de Donald Trump, Mick Mulvaney, que não conseguiram levar ao inquérito para destituição nos dois comités da Câmara de Representantes, devido às resistências da Casa Branca.
A maioria Republicana (53-47) tentará impedir a iniciativa dos Democratas, mas subsistem dúvidas sobre se toda bancada estará unida neste propósito, já que senadores como Mitt Romney mostraram-se disponíveis para votar favoravelmente a resolução de trazer novas testemunhas para o julgamento político.
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