O juiz aposentado John Dyson, que a BBC encarregou em novembro para liderar a investigação, disse que a estação pública “ficou aquém dos elevados padrões de integridade e transparência” esperados.
"Através do seu comportamento anti-ético, Bashir conseguiu organizar a reunião que levou à entrevista" explosiva para a monarquia, diz o relatório, cujas conclusões levaram a BBC a pedir desculpas "absolutas e incondicionais".
O inquérito pretendeu esclarecer as acusações feitas pelo irmão de Diana, Charles Spencer, de que o jornalista Martin Bashir usou documentos falsos e outras manobras para persuadir Diana a aceitar dar a entrevista.
Spencer alegou que Bashir mostrou extratos bancários falsos relacionados ao ex-secretário particular da irmã e de outro ex-membro da família real com o objetivo de obter acesso à princesa.
A entrevista, na qual Diana disse que "éramos três neste casamento" (referindo-se ao relacionamento do príncipe Carlos com Camilla Parker-Bowles) foi vista por milhões de telespetadores e abalou a monarquia.
O presidente da BBC, Richard Sharp, disse hoje que a companhia aceita as conclusões da investigação, acrescentando que "houve falhas inaceitáveis".
John Birt, diretor-geral da BBC na época da entrevista, que foi transmitida no âmbito do programa de reportagens “Panorama”, pediu desculpas a Charles Spencer num comunicado.
“Agora sabemos que a BBC abrigou um repórter desonesto no ‘Panorama' que inventou um testemunho elaborado e detalhado, mas totalmente falso, das suas relações com o conde Spencer e a princesa Diana”, disse.
“Esta é uma mancha chocante no compromisso duradouro da BBC com o jornalismo honesto; e é muito lamentável que tenha demorado 25 anos para que toda a verdade emergisse”, acrescentou.
A investigação considerou se as ações tomadas por Bashir influenciaram a decisão de Diana de conceder a entrevista e também analisou o quanto a BBC sabia sobre os “extratos bancários falsificados” que Charles Spencer afirmou que Bashir apresentou.
A decisão foi celebrada pelo seu filho mais velho, o príncipe William, que reagiu através de um vídeo publicado na conta oficial de Twitter dos duques de Cambridge.
Numa declaração extremamente dura, William diz que os responsáveis da BBC falharam a Diana devido à sua "grave incompetência" e à recusa em dar seguimento a queixas quanto à atuação de Bashir, e que a "forma enganosa" como a entrevista foi obtida influenciou das declarações da sua mãe.
William acusa os funcionários de terem "mentido e usado documentos falsos para obter a entrevista" com a sua mãe, tendo também feito "declarações terríveis e falsas sobre a família real que afetaram os seus medos e alimentaram a sua paranóia" e ainda que foram "evasivos nas suas reportagens e esconderam o que já sabiam a partir das suas investigações internas".
"No meu entender, a forma enganosa como a entrevista foi obtida influenciou substanciamente o que a minha mãe disse. A entrevista foi um grande fator para piorar a relação dos meus pais e magoou outros tantos desde então. Provoca-me uma tristeza indiscritível saber que os falhanços da BBC contribuíram significativamente para aumentar os seus medos, paranóias e isolamento de que me lembro nos meus últimos anos com ela", acusa o princípe.
William diz ainda que o pior é que " se a BBC tivesse investigado propriamente as queixas levantadas logo em 1995, a minha mãe teria sabido que foi enganada", pedindo também que ", numa era das fake news", essa entrevista nunca mais seja transmitida.
Também Harry reagiu ao relatório. O ex-Duque de Sussex, que renunciou à família real e mudou-se para os EUA, disse numa declaração que Diana foi "uma mulher incrível que dedicou a sua vida a servir" os outros, tendo sido "resiliente, corajosa e inquestionavelmente honesta". "Os efeitos de choque de uma cultura de exploração e de práticas pouco éticas acabaram por tirar a sua vida", lê-se.
Diana divorciou-se do príncipe Carlos em 1996 e morreu num acidente de carro em Paris em 1997, enquanto era perseguida por fotógrafos.
Carlos, herdeiro da coroa britânica, casou-se com Camilla, agora Duquesa da Cornualha, em 2005.
Bashir, de 58 anos, que era o editor de religião da BBC News, deixou a emissora na semana passada por motivos de saúde, na sequência de complicações da covid-19.
Depois desta entrevista, o jornalista continuou a sua carreira nos Estados Unidos, até voltar para o Reino Unido para trabalhar na BBC. Permaneceu na rede até então. Além de Lady Di, também entrevistou Michael Jackson para um documentário feito em 2003 para a ITV. Posteriormente, o agora falecido astro da pop apresentou uma queixa ao órgão regulador do setor audiovisual britânico, acusando Bashir de ter construído e transmitido uma imagem distorcida de seu comportamento e de sua conduta como pai.
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