Prigozhin morreu em 23 de agosto, aos 62 anos, num desastre aéreo com mais nove pessoas a bordo, incluindo altos funcionários da sua empresa paramilitar, quando fazia a ligação entre Moscovo e São Petersburgo, após ter liderado um motim contra a liderança militar russa, que foi abortado quando as colunas de veículos dos seus homens já se encontravam nas imediações de Moscovo.
Tanto a Ucrânia (país alvo de uma invasão russa desde fevereiro de 2022) como o Ocidente suspeitam que a queda da aeronave não foi um acidente, mas um atentado, uma tese negada por Moscovo, que, apesar de ainda não ter divulgado a investigação ao desastre que matou Prigozhin, fala vagamente em possíveis violações das regras de segurança do voo, enquanto Putin mencionou mais concretamente a detonação de uma granada a bordo, mas refutando a intenção de matar o seu antigo aliado.
No entanto, “nada disso era verdade”, segundo o WSJ, na investigação intitulada “Como o braço direito de Putin eliminou Prigozhin”, que falou com elementos de “secretas” e agentes no ativo e retirados nos Estados Unidos, na Europa e na Rússia.
Uma fonte europeia ligada a serviços de informações com contactos no Kremlin contou que, quando viu a notícia do desastre aéreo, perguntou o que tinha acontecido: “Ele [Prigozhin] tinha de ser removido”, responderam.
No dia em que o Embraer Legacy 600 que transportava o “senhor da guerra” se preparava para a descolagem em Moscovo “ninguém reparou “no pequeno dispositivo explosivo sob a asa”, relata o jornal com base nas suas fontes.
Foi deste modo, diz o WSJ, que o jato privado se despenhou em espiral no solo 30 minutos após ter iniciado o voo, levando as vidas de Prigozhin e de Dmitri Utkin, comandante principal e cofundador do Grupo Wagner, que foi responsável pela conquista para a Rússia de Bakhmut no leste da Ucrânia e que mantinha mercenários em vários conflitos no Médio Oriente e no continente africano em articulação com o Kremlin.
Por trás do plano para afastar Prigozhin, cujo motim foi considerado a maior ameaça de sempre para o regime de Putin e suas intenções de renovar o mandato presidencial em 2024, esteve, de acordo com as várias fontes da investigação jornalística, o ex-espião, braço direito e mais antigo confidente do líder do Kremlin, Nikolai Patrushev, cujo papel no alegado atentado de agosto era até agora desconhecido, refere o jornal norte-americano.
O WSJ traça o percurso de Patrushev, 72 anos, desde que se envolveu, à semelhança de Putin, na espionagem na década de 70, ocupação que manteve após a desagregação da União Soviética, até se tornar diretor do FSB (sucessor do KGB) e no braço direito do Presidente russo.
É descrito como uma pessoa que vê nos Estados Unidos um inimigo da Rússia que quer roubar os seus recursos naturais e alguém que desenvolve facilmente teorias da conspiração relatadas em entrevistas que concedeu.
“Ele [Patrushev] subiu ao topo por interpretar as políticas de Putin e executar as suas ordens. Ao longo do reinado de Putin, expandiu os serviços de segurança da Rússia e aterrorizou os seus inimigos com assassínios em casa e no exterior”, descreve o jornal, a acrescentando que, mais recentemente, a sua influência cresceu, apoiando a invasão da Rússia, e o seu filho Dmitry, um ex-banqueiro, foi nomeado ministro da Agricultura e é elogiado por alguns como um potencial sucessor do Presidente russo.
Desde 2008, é secretário do Conselho Nacional de Segurança, o que lhe dá pouco poder formal, mas na prática, pela sua proximidade ao longo de mais de duas décadas com Putin, “é o segundo homem mais poderoso da Rússia”.
Patrushev, de acordo com o WSJ, tinha alertado Putin há muito tempo que a dependência de Moscovo do Grupo Wagner na Ucrânia “estava a dar a Prigozhin muita influência política e militar que era cada vez mais uma ameaça ao Kremlin”.
Após o motim falhado de junho, prossegue, “Patrushev interveio para afastar o maior desafio até agora ao Governo de Putin durante mais de duas décadas e também viu uma oportunidade de eliminar Prigozhin para sempre”.
O Kremlin “estava cauteloso” apesar de pouco ter feito publicamente para limitar a vida de Prigozhin, que viajou para África para verificar as suas operações e foi autorizado a continuar a trabalhar em São Petersburgo, disse ao WSJ Maksim Shugaley, que trabalhou para o líder mercenário num ‘think tank’.
O plano de Putin seria deixar Prigozhin numa aparente liberdade, enquanto procurava mais informações sobre os seus colaboradores no motim e do Grupo Wagner, cujos combatentes tinham sido convidados a partir para a Bielorrússia ou a aderir ao exército regular de Moscovo.
“No início de agosto, enquanto a maior parte de Moscovo saía de férias, Patrushev, no seu escritório no centro da cidade, deu ordens ao seu assistente para prosseguir na elaboração de uma operação para eliminar Prigozhin, disse um ex-oficial da “secreta” russa citado pelo WSJ. “Mais tarde, Putin viu os planos e não se opôs”, de acordo com agências de informação ocidentais.
O funeral de Yevgeny Prigozhin decorreu numa pequena cerimónia fechada nos arredores da sua cidade natal, São Petersburgo, sem a presença de Putin, que o descreveu como “um homem talentoso que fez muito pela Rússia mas que cometeu erros”.
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