"Temos de preparar os nossos rios já não somente para um funcionamento e caudal normais, mas dar-lhes força e capacidade de resistir aos impactos" provocados pelas secas e cheias, frisou, em entrevista à Lusa, o investigador do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) da Universidade do Porto.
Segundo Pedro Teiga, a utilização humana destes recursos naturais originou episódios de pressão, cortes da vegetação ribeirinha, descargas de poluição e construções em cima dos seus leitos, tendo estes perdido a capacidade de se autorregenerarem e de responderem aos efeitos das alterações climáticas.
No entanto, ressalvou, todo este sistema poderá trabalhar de forma positiva se agora se fizer o trabalho contrário, “criando células e processos de reabilitação a médio e longo prazo", dotando "os rios de espaços para inundação" e "recargas juntos às cabeceiras e ao longo das margens, com a vegetação ribeirinha a funcionar como corredor ecológico, e “potenciando a fixação de água e evitando evapotranspiração".
"Normalmente, quando os rios estão em situação de cheia ou de seca, aparecem como os maus da fita, mas a culpa não é do rio, por si só. O rio está dentro de um sistema, que é de leis naturais, do qual nós, como seres vivos, fazemos parte. Temos de entender as leis naturais e respeitá-las", disse.
De acordo com o engenheiro ambiental, enquanto seres vivos, os cidadãos fazem parte das transformações despoletadas pelas alterações climáticas, sendo responsáveis por decisões que influenciam, entre outros aspetos, a qualidade da água dos rios e dos produtos e bens que dependem da mesma, como é o caso dos alimentos.
"As minhas pequenas decisões vão influenciar a qualidade da água dos nossos rios e todo o seu funcionamento, nomeadamente [no que respeita] ao tipo de alimentos que colocamos no prato, de onde vêm e qual é o sistema agrícola [utilizado na produção], se é sustentável ou não”, indicou.
Pedro Teiga acredita que o ser humano está perante uma mudança de paradigma em termos de mentalidade, devendo, por isso, estar atento aos eventos da natureza e “não viver numa cidade e numa aldeia em que não se interessa como vai ser o dia de amanhã, se vai chover ou se vai estar sol".
O investigador considera ainda que só com o cumprimento das normas estabelecidas para preservação e recuperação dos rios será possível contornar os danos e os problemas causados às populações pelo agravamento desse tipo de eventos.
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