Os três homens, detidos no sábado, compareceram perante um juiz de instrução do tribunal militar de Blida (sul de Argel) e colocados em prisão preventiva, referiu um comunicado do procurador militar.
Estes antigos responsáveis foram indiciados por “atentado à autoridade das Forças Armadas” e “conspiração contra a autoridade do Estado”, e de acordo com o código de justiça militar arriscam penas entre 5 e 10 anos de prisão.
A televisão estatal interrompeu os seus programas para difundir um noticiário especial acompanhado de imagens da chegada ao tribunal de Saïd Bouteflika, de Mohamed Mediene, que dirigiu durante 25 anos os serviços secretos argelinos, e do seu sucessor, Athmane Tartag, ex-coordenador dos serviços de informações.
Estavam acompanhados por membros dos serviços de segurança à civil, e cujas caras foram ocultadas.
Estas detenções não foram divulgadas pelos media oficiais, e desde sábado que muitos argelinos exigiam a difusão de imagens que comprovassem as prisões dos três antigos altos responsáveis do regime, refere a agência noticiosa AFP.
Saïd Bouteflika, 61 anos, era considerado o verdadeiro homem forte do palácio presidencial desde o acidente vascular cerebral do seu irmão Abdelaziz em abril de 2013. Assim, era uma das figuras mais contestadas nas manifestações que exigem desde 22 de fevereiro o afastamento dos responsáveis do sistema.
Estas detenções surgem dois dias após a 11.ª sexta-feira consecutiva de manifestações de massas contra o poder, que implicaram a demissão de Abdelaziz Bouteflika em 02 de abril, após 20 anos à frente deste país magrebino rico em hidrocarbonetos.
O atual homem forte do país, general Ahmed Gaïd Salah, um fervoroso ex-apoiante do antigo presidente, desde final de março que punha em causa os três detidos, mas sem os designar, numa recomposição da cúpula do poder em Argel caracterizada por graves acusações mútuas, e logo após o afastamento de Abdelaziz, que desistiu de se apresentar a um quinto mandato presidencial.
Após a queda do ex-presidente, a justiça argelina desencadeou processos judiciais sobre corrupção e transferência ilícita de capitais dirigidos a poderosos empresários e altos responsáveis do regime, que já implicaram diversas detenções.
Num discurso ao país, o chefe de Estado interino, Abdelkader Bensalah, apelou hoje a um diálogo “inteligente, construtivo e de boa fé” que, na sua perspetiva, permanece “o único meio para construir um consenso fecundo, o mais largo possível, de natureza a permitir a reunião das condições apropriadas para a organização, nos prazos previstos, da eleição presidencial”, agendada para 04 de julho.
Um encontro convocado por Bensalah em 22 de abril para preparar esta eleição foi boicotado pela maioria dos partidos políticos, e ainda pelos sindicatos e grupos da sociedade civil próximos do movimento de contestação.
Os manifestantes recusam que as eleições presidenciais, onde será eleito o sucessor de Bouteflika, sejam organizadas pelas estruturas e o aparelho herdados da sua presidência, e que consideram incapazes de garantir um escrutínio livre e justo.
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