Pertencente a uma esquerda radical, que atribui à União Europeia a responsabilidade das medidas de austeridade, este ex-sindicalista septuagenário de barba branca manteve durante muito tempo ambiguidade sobre o tema que divide a sociedade britânica.
Mas, pressionado pelo seu partido, tomou recentemente uma decisão: se chegar ao poder, vai negociar um novo acordo de divórcio que mantenha uma estreita relação com a UE - para proteger empregos e o meio ambiente - e submetê-lo a um referendo com a opção de simplesmente anular o Brexit.
O acordo negociado pelo primeiro-ministro Boris Johnson terá um "impacto desastroso”, disse Corbyn, dirigindo-se aos eleitores. A seguir especificou onde reside o “desastre”: “na segurança dos alimentos que comem, nos direitos laborais, na contaminação do ar que respiram e nas indústrias nas quais trabalham”.
No entanto, fiel aos muitos eleitores trabalhistas receosos com a União Europeia, não revela a sua posição pessoal e anunciou que não faria campanha por nenhuma das opções em caso de um segundo referendo.
As acusações de antissemitismo e a guerra contra a desigualdade
Defensor da causa palestina, enfrentou duríssimas acusações de racismo contra judeus por não reagir a tempo nem com firmeza às muitas denúncias de antissemitismo nas fileiras do seu partido.
"Não há lugar para o antissemitismo de nenhuma forma, nem em nenhum lugar, no Reino Unido moderno. E sob um governo trabalhista não será tolerado", afirmou há duas semanas, pedindo desculpa por ter sido "lento demais" a impor sanções.
Com um dos programas mais à esquerda já visto em décadas no Reino Unido, se chegar a Downing Street, prometeu uma "transformação nacional" sem precedentes, investindo centenas de milhões de euros para melhorar escolas e hospitais e para impulsionar a descarbonização da economia.
Também prometeu nacionalizar serviços como a água, a energia elétrica, o serviço ferroviário, os correios e a fibra ótica. Comprometido com uma guerra contra a desigualdade, ameaçou inclusive acabar com as escolas privadas do país.
As origens de um líder com uma vida “muito normal”
Nascido em 26 de maio de 1949, Corbyn desenvolveu o seu gosto pela política com os seus pais, um engenheiro e uma professora, que se apaixonaram durante uma manifestação contra a guerra civil espanhola.
Cresceu no oeste de Inglaterra e nunca gostou de estudar. Terminado o ensino médio, viveu dois anos na Jamaica como voluntário. Quando regressou, instalou-se em Islington, um bairro do norte de Londres que então era o coração dos protestos de esquerda.
Desde 1983, é deputado por essa circunscrição, onde continua a viver, numa casa modesta, com a sua terceira mulher, a advogada mexicana Laura Álvarez, 20 anos mais jovem.
É vegetariano, pai de três filhos, e em 2015 declarou ao jornal britânico The Guardian que leva uma vida "muito normal" e continua a deslocar-se de bicicleta.
Rebelde e impopular? Não é o que dizem os resultados
Após anos das políticas centristas de Tony Blair, este homem, que encarna a ala mais à esquerda do partido, teve de lutar para impor suas ideias.
Eleito líder do partido em 2015, enfrentou uma parte da estrutura partidária, que se recusava ser comandada por alguém que consideravam um rebelde. Um ano depois de ser eleito, enfrentou uma moção de censura interna, mas sobreviveu e foi reforçando a sua autoridade.
Para surpresa de todos, elegeu 262 deputados nas legislativas antecipadas de 2017, trinta a mais do que dois anos antes.
As suas posições radicais e progresso eleitoral fizeram dele um exemplo para partidos da extrema esquerda europeia, como o espanhol Podemos ou o grego Syriza.
Mas nada lhe garante sucesso agora: considerado sem carisma e com um discurso enfadonho é, segundo as estatísticas, o líder opositor mais impopular dos últimos 45 anos.
Apesar de as sondagens para estas eleições não lhe serem favoráveis, o líder trabalhista afirmou, ainda esta semana, que uma vitória esta quinta-feira seria “um presente de Natal antecipado”.
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