"Isto é quase um desabafo pessoal, os meus camaradas perdoar-me-ão, mas tive sempre esta ideia: ninguém é insubstituível", vincou um Jerónimo de Sousa emocionado, numa entrevista à agência Lusa a propósito da conferência que irá este mês reenquadrar os objetivos do partido para o futuro.
Com 75 anos e quase 18 como secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa escusou-se na entrevista a indicar uma data concreta para a substituição, mas avisou que "a lei da vida não perdoa a ninguém".
Antes de precisar que "o fator determinante" será a avaliação das "condições físicas e anímicas para continuar a fazer 2.000 quilómetros num fim de semana", o dirigente comunista garantiu que "a direção do partido olhará, acompanhará, verificará" a passagem do testemunho.
"Eu, no caso concreto, tenho a ideia de que a vida tem um desfecho e que não deveria, enfim, esperar por qualquer reparo crítico em relação à idade", admitiu, aproveitando para esclarecer logo de seguida: "aqui o fator fundamental é de facto a saúde".
"A saúde é um elemento central, por muitos planos, programas, ideais, sonhos, tudo isso que a vida comporta, há uma coisa que é implacável, que é a lei da vida", afirmou, assegurando que daria a sua contribuição quando o PCP considerasse "chegado o momento de uma substituição, de forma tranquila, mantendo a coesão do partido".
Jerónimo prometeu continuar a desenvolver o seu trabalho, inclusivamente o de participar na escolha do seu sucessor.
Daí "ser eu também a decidir e a propor essas possíveis alterações do secretário-geral. Podíamos estar a falar da Comissão Política, do Secretariado, do próprio Comité Central", realçou.
"Vou continuar a trabalhar, a dar o meu melhor, mas qualquer decisão tem a minha participação", sublinhou, advertindo logo a seguir: "No meu partido não existem militantes de diversas categorias, existem militantes com diversas responsabilidades".
E a responsabilidade é "muito exigente", pelo que "neste momento o fator determinante está a ser de facto as condições físicas e anímicas para continuar a fazer 2.000 quilómetros num fim de semana", reiterou Jerónimo de Sousa.
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