"Os nosso governantes estão contentinhos porque o povinho está contentinho", critica o economista João César das Neves. Enquanto assim for, Portugal estará bloqueado. "Na saúde continuamos a discutir os médicos em vez de estar a olhar para o código genético ou para o desenvolvimento de novos medicamentos, continuamos a discutir os direitos dos professores em vez das novas tecnologias, continuamos a discutir os bancos em vez das fintech".
Mas o país "fica contentíssimo com os bombons que o senhor primeiro-ministro está a tirar do orçamento como se fossem benesses extraordinárias que vêm do bolso dele", acusa. "Somos todos socialistas" e, da esquerda à direita, "todos os partidos estão lá para tomar conta do Estado e aproveitarem-se do Estado".
O "gigantismo" do orçamento, "a quantidade de dinheiro que gastamos" e o "magro resultado" que obtemos são a prova disso, diz professor da Católica. Agora, o PRR só virá reforçar isso ainda mais. "Sem qualquer vergonha, está escrito nos papéis que o que vamos fazer é alimentar os lobbies do costume, da construção, da banca..." César das Neves não acredita que o plano que apresentámos em Bruxelas seja para cumprir. "Quando o dinheiro vier, logo se vê".
O cúmulo foi o "ridículo de convidar uma pessoa e pedir a esse cérebro para planear o futuro do país a dez anos. E ninguém se riu. Temos um governo com uma data de ministérios, uma data de secretarias, uma data de especialistas, mas decidimos esquecer isto tudo", lembra.
Uma conversa sobre o Orçamento do Estado para 2022, os salários, o perigo da inflação e, mais do que isso, da subida das taxas de juro para um país tão endividado como Portugal. E a quase certeza de que aí vem novo "aperto" orçamental.
"Estamos metidos num conjunto de imbróglios que são repetidos até à exaustão pelas forças do costume e que conseguem votos permanentemente. Enquanto as pessoas continuarem a acreditar nas aldrabices que lhes dizem, o país não melhora", repete João César das Neves.
Quanto a surpresas, só o Chega, que está a alterar o xadrez à direita, poderá ser um problema - "mas não é a Marine Le Pen, são aselhas. O Ventura é um trapalhão". E pode ser o sapo a engolir. "Tirando isso vai ficar tudo muito parecido e o principal beneficiado talvez seja o Partidos Socialista", admite o economista.
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