
O almirante Henrique Gouveia e Melo anunciou que o antigo presidente do Partido Social Democrata (PSD), Rui Rio, é mandatário nacional da sua candidatura à Presidência da República num jantar de apresentação da candidatura no Porto com centenas de apoiantes.
"Permitam-me que comece por dar nota da minha satisfação pelo facto de o nosso candidato a Presidente da República ter escolhido o Porto para a apresentação do seu mandatário nacional", começou por introduzir Rui Rio.
Logo de seguida falou o social-democrata que confessou que é para si "uma honra ter sido o escolhido", assim como ter a possibilidade de discursar "na cidade onde nasceu, vive e, com orgulho, serviu como autarca durante bem mais de uma década".
Rui Rio assumiu que não era sua intenção "voltar aos palcos políticos", mas defende ser necessária “coragem e competência” para combater os interesses instalados.
"Desde a instável conjetura externa, até à complexa situação económica e social do nosso país, passando pela degradação acentuada que a própria qualidade da democracia tem sofrido, muitos são os condicionalismos que têm atrasado o nosso desenvolvimento e que, manifestamente, não temos conseguido ultrapassar. Não se ter disponibilidade para a vida pública é, hoje em dia, perfeitamente compreensível. Mas estes condicionamentos, que põem em causa a futura qualidade da vida dos nosso filhos, colocam perante a nossa consciência o dever cívico de renunciar ao nosso comodismo pessoal e, acima de tudo, a uma passividade cúmplice", declarou.
Rui Rio destacou também que, "nestes novos tempos, em que tudo muda a uma velocidade a que nunca antes a humanidade presenciou, tudo também se desatualiza rapidamente", o que "pode ser transformado em oportunidade de desenvolvimento e de progresso, ou ser origem de atraso e de disfunções".
"Quando não realizamos as alterações que esta característica fundamental do nosso quotidiano reclama, ajustando a sociedade às novas realidades, estamos a criar desequilíbrios, a enquistar interesses e a condenar o país ao atraso. Quando, pelo contrário, temos a coragem e a competência de fazer transformações que os novos tempos exigem, abrimos novos horizontes e caminhamos no sentido do desenvolvimento", rematou.
O antigo dirigente do PSD considerou também "é precisamente esta coragem e esta competência que têm faltado na política portuguesa", particularmente no que diz respeito ao "sentido de responsabilidade para reformar o que há muito sabemos que tem de ser reformado".
"Precisamos de coragem política para combater os interesses instalados, que prejudicam o interesse coletivo e agravam as injustiças sociais", destacou e alertou que "compete ao poder político agir, repondo a lógica democrática".
Rio salientou igualmente que, "na vida pública, nada acontece por acaso", sendo que a "evidente degradação dos nossos serviços públicos, a asfixiante burocracia, a baixa produtividade da nossa economia, os fracos salários, a escassez de poupança e de capital, o exagerado nível da despesa pública, a carga fiscal que não para de aumentar e alimenta políticas eleitoralistas, o endividamento excessivo, o preço da habitação, os graves problemas do SNS, as falhas da nossa escola pública, o desgoverno na política de imigração ou a falta de uma efetiva defesa do consumidor" resulta, na sua opinião, "da falta de coragem para mudar estruturalmente o que há muito já devia ter sido mudado".
O presidente do PSD disse ainda que estes problemas são "o resultado de uma cultura política virada para o marketing e para o curto prazo, em lugar de se fixar no horizonte, ou seja, no futuro, de todos nós", assim como "de diálogo democrático, gerador de instabilidade e de mesquinhos ódios partidários, que têm extremado a vida política nacional e obstaculizado o caminho reformista que o bom senso e a sensatez reclamam".
"Importar para a política os excessos de linguagem que tanta vezes vemos no futebol revela uma evidente falta de cultura democrática. Não nos pode, por isso, admirar, que sendo formalmente uma democracia há mais de 50 anos, também não deixe de ser inequívoco que a sua qualidade e eficácia se têm vindo a degradar de forma evidente. Uma democracia evoluída pressupõe o respeito pelas minorias mas, igualmente, que em situações conflituantes, deve prevalecer a vontade da maioria e não o seu contrário. Só em ditadura é que persistem minorias que condicionam a maioria", disse.
Houve ainda tempo quase no fim do discurso para endereçar duras críticas a Marcelo Rebelo de Sousa, afirmando que Portugal precisa de um Presidente “que não se perca no comentário avulso em detrimento do que é nobre e estruturante”.
“Portugal precisa de um Presidente da República que não se feche no Palácio de Belém e que aproveite a comunicação social para falar com os portugueses, mas que não caia na tentação de fazer dela um modo de vida”, referiu.
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