"Lembro-me sempre da greve geral de 1988. Ele era Presidente da República, era um momento muito difícil e os sindicatos precisavam de manifestação de apoio. Ele disse para irem reunir-se com ele à Guarda numa presidência aberta em que ele estava", recordou João Proença.
O ex-secretário-geral da União Geral de Trabalhadores e socialista João Proença falava aos jornalistas à entrada para o Mosteiro dos Jerónimos, onde o corpo de Mário Soares está em câmara ardente.
Para João Proença, o dia em que o antigo chefe do Estado aceitou reunir-se com os sindicatos em plena greve geral - que uniu as duas centrais sindicais contra alterações às leis laborais no primeiro governo de Cavaco Silva - "foi um momento marcante para o movimento sindical português".
Por seu lado, o socialista Álvaro Beleza recordou Soares como "uma das grandes figuras da História de Portugal, da democracia", um homem que "foi maior que o país".
Também à entrada para o Mosteiro dos Jerónimos, o deputado Pedro Delgado Alves assinalou o "momento em que todo o país tem uma oportunidade para agradecer e despedir-se de Mário Soares, procurando homenagear a sua vida e o seu legado de liberdade, de democracia".
"É um momento de dor, é um momento de perda, mas que também deve servir para nos motivar na enorme responsabilidade que temos de preservar, acarinhar um legado tão frágil: a liberdade, a democracia, a memória de quem tanto sacrificou para que hoje pudéssemos ser livres e escolher o nosso destino", frisou.
Mário Soares morreu no sábado, aos 92 anos, no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa.
O Governo português decretou três dias de luto nacional, até quarta-feira.
O corpo do antigo Presidente da República vai estar em câmara ardente no Mosteiro dos Jerónimos até à meia-noite de hoje, e entre as 08:00 e as 11:00 de terça-feira.
O funeral realiza-se pelas 15:30 de terça-feira, no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.
Nascido em 07 de dezembro de 1924, em Lisboa, Mário Alberto Nobre Lopes Soares, advogado, combateu a ditadura do Estado Novo e foi fundador e primeiro líder do PS.
Após a revolução do 25 de Abril de 1974, regressou do exílio em França e foi ministro dos Negócios Estrangeiros e primeiro-ministro entre 1976 e 1978 e entre 1983 e 1985, tendo pedido a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1977, e assinado o respetivo tratado, em 1985.
Em 1986, ganhou as eleições presidenciais e foi Presidente da República durante dois mandatos, até 1996.
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