João Soares tomou posse como ministro da Cultura a 26 de novembro e demitiu-se hoje, um dia depois de ter ameaçado dar "salutares bofetadas" a Vasco Pulido Valente e a Augusto M. Seabra, por causa de artigos de opinião que estes escreveram no jornal Público.
Na sua conta pessoal de Facebook, o então ainda ministro escreveu a 7 de abril: “Estou a ver que tenho de o procurar, a ele [Augusto M. Seabra], e já agora, ao Vasco Pulico Valente, para as salutares bofetadas. Só lhe podem fazer bem. A mim também.” Mais tarde, reagiu à polémica da seguinte forma: “Sou um homem pacífico, nunca bati em ninguém. Não reagi a opiniões, reagi a insultos. Peço desculpa se os assustei.”
Para o dia 19, João Soares tinha agendada uma audiência parlamentar onde prestaria esclarecimentos precisamente sobre um dos temas polémicos do seu curto mandato na Cultura: A demissão de António Lamas da administração do Centro Cultural de Belém, por causa do projeto de gestão integrada do chamado "eixo Belém-Ajuda".
CCB, "finançazinhas", Miró e Vieira da Silva: quatro temas para quatro meses
Nestes quatro meses à frente do Ministério da Cultura, no qual assumiu também a tutela da comunicação social, João Soares desdobrou-se em contactos com estruturas e agentes culturais pelo país e defendeu um projeto político para a Cultura "para além da análise das 'finançazinhas'", em diálogo com a administração central e regional e num lógica de solidariedade inter-ministerial.
Em fevereiro, na discussão da proposta de Orçamento do Estado (OE) para 2016 no Parlamento, João Soares dizia que o setor cultural tinha de ser encarado para lá de uma "análise de contabilidade" orçamental e que gostaria de ter mais recursos financeiros para aplicar no setor.
“É preciso ter consciência de que estamos confrontados com uma situação de emergência, muito séria, que resulta dessas aventuras de quem pôs os chamados 'mercados' acima dos interesses do país e nomeadamente dos interesses culturais do país”, disse a 1 de fevereiro.
O tema mais polémico enquanto exerceu o cargo foi o do CCB - para onde nomeou Elísio Summavielle para o lugar de António Lamas, num processo que muitos criticaram pela forma como foi conduzido. “Eu acho que o presidente do CCB [Centro Cultural de Belém] tem de sair. E se não sair, eu, na segunda-feira, seguramente o demitirei, usando os instrumentos legais de que disponho”, anunciava a 26 de fevereiro.
João Soares deixou claro que queria manter em Portugal "para todo o sempre" o acervo de obras de Joan Miró, pertencentes ao antigo BPN, que pretendia expor em Serralves, mas não chegou a anunciar qualquer decisão.
Também defendeu a permanência em Portugal das obras da pintora Maria Helena Vieira da Silva, pertencentes ao colecionador Jorge de Brito, propondo uma permuta das obras por terrenos pertencentes ao Estado.
A equipa e as nomeações
No Ministério da Cultura, João Soares contava com Isabel Botelho Leal como secretária de Estado.
Reconduziu Luísa Taveira na direção artística da Companhia Nacional de Bailado, nomeou Isabel Cordeiro para a administração do CCB, Paula Silva e David Santos para a Direção-Geral do Património Cultural e Carlos Vargas para presidente da administração do OPart - Organismo de Produção Artística.
No Porto, João Soares nomeou Ana Pinho Macedo Silva para presidir o conselho de admninistração da Fundação Serralves.
Antes do Ministério da Cultura
Nascido em Lisboa 1949, filho de Mário Soares e Maria de Jesus Barroso, João Soares era editor, foi deputado na Assembleia da República entre 1987 e 1990, presidente da câmara de Lisboa entre 1995 e 2002 e a partir de então novamente deputado.
Membro da sociedade maçónica Grande Oriente Lusitano desde 1974, João Soares integrou ainda o Conselho de Estado de 1998 a 2002 e foi membro do Parlamento Europeu em 1994 e 1995.
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