Fala em arroz, malandrinho, de cabidela ou outro qualquer. Não quer ser "mais do mesmo" e para isso defende que a Iniciativa Liberal tem de mudar, deixar de ser apenas oposição ao PS para passar a ser alternativa de governo. Só assim não será mais um CDS ou um PAN.
José Cardoso encabeça a Lista A e acredita que um líder só tem legitimidade se tiver mais de 50% dos votos. "Uma maioria absoluta oferece a todos, mesmo aos que discordam, uma noção de legitimidade democrática", diz.
Por isso propôs uma alteração ao Regimento, para passar a haver uma segunda volta, como existe para a Presidência da República, por exemplo. Foi rejeitada. Uma boa parte da manhã foi tomada pelo tema e acabou por irritar o candidato: "Faz-me confusão que o árbitro tome partido no jogo", respondeu depois de a mesa ter emitido opinião, em vez de "manter a neutralidade".
"Se, por acaso, hoje ninguém ganhar com mais de 50%, vamos estar aqui mais cedo do que teríamos de estar, numa altura em que não existe a pressão de eleições legislativas", explicou ao SAPO24.
"O partido acaba por estar numa fase determinante, que definirá tudo, porque é agora que constrói. Viemos em espírito de startup política até aqui, agora é necessário fazer uma inflexão, quem lá está não conseguiu perceber isso. E já estão em exercício há um ano, praticamente".
Para José Cardoso, esta é a altura para deixar de ser startup para passar a ser projecto político de futuro, "que requer muito mais pessoas, outro tipo de capacitação, uma postura diferente, novas bandeiras. Com o aumento do número de deputados na Assembleia da República, eu tinha um pouco essas expectativas", mas não aconteceu. Já não chega "ser partido de protesto".
O candidato recorda que, "não sei se por trabalho, se por sorte, se pela combinação das duas, houve uns laivos de partido de governo" quando, a meio da campanha para as últimas legislativas, a IL introduziu o tema do crescimento económico. "Penso que vem daí o grande crescimento que o partido teve nas eleições. O que defendo é muito mais uma Iniciativa Liberal assim, que consegue gerir agenda e não funcionar como reacção ao PS".
"A Iniciativa Liberal deve ser mais partido de governo e menos de protesto, e ser mais capaz de estar numa ótica de resolver mais os problemas das pessoas, que, no final do dia, não votam em socialismo ou em liberalismo, votam em quem lhes resolve os problemas".
É por isso que José Cardoso considera que a Iniciativa Liberal "tem de pôr no centro da sua acção política prioritária o cidadão. E, neste momento, no centro está o PS", diz, o que "para um partido liberal é pouco. Um partido liberal é um defensor da liberdade do cidadão, portanto, 70% ou 80% tem de estar focado aí".
Mas, para ter capacidade de pôr as pessoas a pensar liberal e para transmitir essa energia para fora, o partido tem de ser capaz de o fazer por dentro em primeiro lugar. A IL tem de "identificar os seus públicos um a um. Por exemplo, os contabilistas. Se calhar, podemos estudar a sua realidade individual e ver o que podemos fazer para dar mais bem-estar, sucesso, respeito pelo que são as suas funções, facilitando burocracia, a relação com as Finanças, para sermos quem lhes resolve os problemas". Depois, temos os enfermeiros, os médicos, os professores, os gestores, os empresários, os funcionários públicos, todos os outros grupos.
Diz que ser um candidato que não é deputado pode ser uma vantagem, "pela visão pública". O que "é uma pena, porque um partido liberal, que defende a ideia do mérito, devia estar permanentemente a lançar pessoas para a frente. E não o faz".
Como poderia fazê-lo? "Há regras de prática liberal na Europa, se formos ao norte da Europa buscá-las, em que isso acontece de forma permanente. Por exemplo, quem são as pessoas que estudam a educação ou a saúde no Centro de Estudos da Iniciativa Liberal? Não sei quem são, gostava de saber. Onde é que está um encontro anual para que essas pessoas, que percebem tanto daquele tema, possam expor as suas ideias para eu me sentar na primeira fila a conhecê-los?"
É verdade que existem as Jornadas Parlamentares da Iniciativa Liberal, mas José Cardoso tem ficado à margem. "Nunca fui convidado e sou conselheiro nacional, imagine se não fosse". Por este motivo acredita que "é preciso criar dinâmicas internas do partido que tragam as pessoas para a frente, para que as pessoas olhem para nós e digam "aqueles senhores são diferentes". Até porque não gosto muito de políticos tudólogos", confessa.
E garante que 70% ou 80% daqueles que são agora os grandes temas do partido foram os temas para os quais chamou a atenção nos últimos três anos no Conselho Nacional. "Os candidatos alternativos a mim votaram contra, permanentemente votaram contra, impediram tudo, e hoje estão aqui a defender 70% ou 80% daquilo que eu disse".
"Não podemos montar um partido que seja igual ao PSD ou ao PS. Senão, no final, vai acontecer o que aconteceu ao CDS e ao PAN", por exemplo. "Não há um partido novo que tenha sobrevivido depois do 25 de Abril na Assembleia da República".
Na opinião de José Cardoso "os puristas dão cabo de tudo, porque acham que têm de ser perfeitos. É aquela malta muito ideológica, que começa a criar barreiras, as tais linhas vermelhas que me fazem uma confusão terrível, porque em democracia é preciso muito mais que isso. E porque não querem assumir que são de governo, têm medo, é mais difícil governar do que criticar".
"Como os portugueses passam a vida em crises, quando chega mais uma votam no partido com que acham que vão perder menos, não é no que acham que podem ganhar mais. E quem acaba por ganhar com isso é o bipartidarismo, que é a ruína do país. Porque não há compromissos, não há reformas, não há nada. Só há a ideia de alternância entre eles. Na Europa, há governos com três ou quatro partidos, liberais coligados com socialistas (claro que não são os socialistas à portuguesa)".
E a conversa volta ao início. É na prática liberal que o partido está a falhar. "A maneira como elegemos, a maneira como escolhemos os deputados, a maneira como comunicamos, a maneira como fazemos convenções, há práticas liberais bem diferentes das nossas que não são aplicadas", como o voto preferencial, em que no boletim de voto estão os nomes das pessoas, "não é aquela coisa de o partido escolhe a lista e depois pode ir um bando de incompetentes".
"Essa dor, de termos de ser liberais num país que é estatista, que pensa estatista, que tem medo de desafiar, de contrariar o poder, é um drama. Parece que não ultrapassámos o medo, aquela coisa do respeitinho, que é o que nos limita a todos. Nos outros países até os partidos socialistas são mais liberais que isto. Isto é medonho".
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