Num discurso transmitido pela televisão, Emmanuel Macron acusou os partidos da oposição de votarem na moção de censura unidos “numa frente antirrepublicana” por quererem “criar desordem”, numa altura em que o país vive uma situação de crise política e orçamental.
Após o discurso, o secretário do Partido Socialista (PS), Olivier Faure, afirmou que a única frente antirrepublicana é “aquela que faz promessas à extrema-direita” e “negoceia exclusivamente com ela”.
“A verdadeira irresponsabilidade no debate orçamental é ter sacrificado o acesso aos cuidados de saúde, aos reformados de baixos rendimentos, aos lares de idosos e aos hospitais públicos”, acrescentou.
Olivier Faure, o chefe dos deputados do PS, Boris Vallaud, e o seu homólogo no Senado, Patrick Kanner, serão recebidos no Palácio do Eliseu na sexta-feira de manhã, segundo o jornal Le Monde, que avançou que Emmanuel Macron irá receber também os líderes dos partidos e os presidentes do bloco central, do Partido Socialista e da direita.
Para os centristas e a direita, trabalhar com os socialistas e os ecologistas – únicas forças dispostas a compromissos – implica que estes últimos se separem do partido de esquerda radical França Insubmissa (LFI), com o qual formam a Nova Frente Popular (NFP), principal força da Assembleia Nacional.
O LFI avisou hoje que censuraria um Governo que não viesse da esquerda, apelando à demissão de Macron e à realização de “eleições presidenciais antecipadas”, que estão previstas para 2027, algo que o Presidente francês recusou, assegurando que cumprirá o seu mandato presidencial de cinco anos “até ao fim”.
A vice-presidente da Assembleia Nacional da LFI, Clémence Guetté, denunciou a “arrogância” do Presidente que “insulta toda a gente (…) não anuncia nada”.
Macron é “a causa do problema” e “vai sair pela força dos acontecimentos”, disse o líder da esquerda radical LFI, Jean-Luc Mélenchon, logo após o discurso do presidente.
Para Eric Ciotti (de direita aliado da extrema-direita), ”ousar falar de uma frente antirrepublicana é um erro moral”, condenando a expressão usada por Macron para descrever os deputados que votaram a favor da moção de censura.
Já a extrema-direita, que desempenha o papel de árbitro e precipitou a censura do Governo Barnier, garantiu que deixará o futuro chefe de Estado trabalhar” para “co-construir um orçamento aceitável para todos”, com a líder da União Nacional (RN), Marine Le Pen, a garantir a oposição a um primeiro-ministro de esquerda.
“Não haverá um primeiro-ministro da Nova Frente Popular”, afirmou em entrevista à CNews, considerando que tal não é “do interesse de Emmanuel Macron”, a não ser que haja “uma das suas famosas fases de provocação”.
A líder do RN na Assembleia da República reiterou o seu pedido de “mudança do sistema de votação” para as eleições legislativas, para um sistema “baseado na representação proporcional”, para assim conseguir ter “uma maioria absoluta porque o país precisa de ter um rumo”.
“Uma moção de censura não é antirrepublicana”, afirmou o também dirigente do RN Jordan Bardella no canal France 2, acrescentando que quando se ocupa o alto cargo “não se pode passar o tempo a insultar os milhões de franceses que não concordam” com a política seguida, defendendo que não tem uma “causa comum” com o LFI.
Para Jordan Bardella, “a aliança que não é digna (…) é a aliança profana que se formou entre os macronistas e a Nova Frente Popular durante as eleições legislativas”, referindo-se aos círculos eleitorais em que os candidatos se retiraram para impedir a vitória do RN.
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