“Eu ainda me lembro de, [quando era] jovem, aqui no concelho de Valongo, vir aqui ser ativista contra as condições que havia nessa época”, recorda o atual presidente do Conselho de Administração da Lipor, José Manuel Ribeiro.

Antes de ser a associação intermunicipal que celebra agora 40 anos, a gestão de resíduos cabia à empresa privada Fertor, numa altura em que “havia pessoas que catavam lixo”, lembra o também autarca de Valongo, em entrevista à Lusa.

Também Ana Machado, técnica superior na área de educação e formação ambiental da Lipor, refere que, “nos anos 70, (…) nem sequer se podia dizer que era um aterro sanitário, ainda era uma lixeira”.

“Nessa altura, havia muito pouco controlo, não havia nada na base, no solo, que protegesse o lixo de estar diretamente em contacto com o solo”, relata.

É por isso que José Manuel Ribeiro considera que “o trabalho que foi feito é absolutamente positivo, do ponto de vista de montar um sistema integrado”, que é encarado, “quer no país, quer na Europa, como um bom exemplo”.

Hoje, a Lipor serve os municípios de Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Valongo e Vila do Conde, tratando anualmente cerca de 500 mil toneladas de resíduos urbanos, produzidos por um milhão de habitantes.

“Todo o resíduo que pudermos valorizar, valorizamos”, salienta o administrador.

Essa valorização passa pelo centro de triagem, onde são separados os diferentes tipos de resíduos para serem reencaminhados para centrais de reciclagem, a central de valorização orgânica, que transforma os restos alimentares vindos do canal HORECA (hotéis, restaurantes e cafés) e do lixo doméstico em composto orgânico, e os restantes resíduos em energia elétrica, através da incineração.

No ano em que celebram quatro décadas de existência, esta empresa intermunicipal olha para o futuro.

“Adjudicámos, há pouco tempo, uma nova linha de triagem que vai ser a mais avançada na Península Ibérica, uma coisa espantosa, para separar com maior capacidade”, realça José Manuel Ribeiro.

A atual linha “faz cerca de três toneladas por hora, e atualmente está a processar 14 mil toneladas por ano, já está no seu limite de capacidade”, detalha à Lusa Hélder Filipe Marques, responsável pelo projeto do novo centro de triagem.

O novo projeto, para o qual está prevista uma verba de seis milhões de euros, “vai ter uma produtividade de oito toneladas por hora e o processo de triagem vai ser automatizado”.

“A separação, que hoje em dia é feita manualmente, vai ser feita por máquinas e a posição de trabalho feita por humanos vai ser, sobretudo, no controlo de qualidade. Vamos retirar estas tarefas de elevado desgaste físico e pôr as pessoas a fazer aquilo que realmente é fundamental”, concretiza Hélder Marques.

Esta nova central “vai ter um elevado nível de digitalização” em que “todos os equipamentos vão estar interligados e a comunicar, para que seja possível ter um maior controlo do processo” e uma maior produtividade, detalha o especialista.

Também a central de valorização orgânica “vai sofrer um outro investimento, para termos mais capacidade de produzir” um composto orgânico que é usado por “muitas das melhores marcas de vinho”, mas também de outros produtos de norte a sul do país, incluindo de laranja do Algarve, banana da Madeira e ananás dos Açores.

Há ainda uma intenção, que já foi manifestada ao Governo, de criar “uma terceira linha na central de valorização energética da Maia, até como forma de resolver o problema do fim dos aterros”, adianta José Manuel Ribeiro.

“Dentro de quatro anos, todos os aterros da região Norte ficam esgotados, e, portanto, neste momento existe um problema grave que a maior parte dos autarcas não sabem o que vão fazer”, considera o presidente da Câmara de Valongo.

A Lipor tem “uma solução, que é um investimento adicional” que resulta num “reforço de capacidade” para “resolver o problema dos outros 80 e tal autarcas que, dentro de quatro anos, não terão aterros para depositar resíduos domésticos”.

Nos oito municípios geridos pela empresa intermunicipal, não há aterros há 22 anos.

“O último aterro a ser encerrado é o que, hoje em dia, é o novo Parque Aventura da Lipor, que foi completamente selado, encerrado, com requalificação paisagística do espaço, que foi devolvido à população”, adianta Ana Machado.

Os cuidados encetados nas últimas duas décadas do século passado de permear o solo permitiram uma recuperação mais rápida dos terrenos.

“Temos muito perto o rio Tinto que, possivelmente, foi também contaminado por esse início de má gestão, ainda enquanto lixeira. Por isso, essa conversão em aterro sanitário, fez com que houvesse uma drenagem desse lixiviado [líquido formado pela decomposição do lixo], e também uma drenagem do biogás”, explica a responsável pela área de educação ambiental.

Para além do Parque Aventura, inaugurado em 2009, em 2017 foi criado o trilho ecológico, “um percurso de quatro quilómetros, que passa nas instalações da Lipor, passa junto ao rio Tinto e dentro do Parque Aventura”.

A acrescer à recuperação do rio Tinto, “a Lipor hoje está envolvida em vários projetos da biodiversidade, seja o rio Leça, mas também as Serras do Porto”, bem como o BioBlitz, um evento pedagógico e científico promovido por Serralves, “que é hoje a maior manifestação da defesa da biodiversidade em Portugal”, e que a empresa patrocina, destaca o administrador.

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