A credibilidade do Reino Unido tem vindo a ser abalada a nível internacional desde o Brexit. Depois dos escândalos de Boris Johnson, a incompetência de Liz Truss, menos de dois meses à frente do governo, fez o mundo voltar as atenções para o país. Pelos piores motivos.
Quem será o senhor (ou senhora) que se segue? Pedro Caetano, a viver há anos no Reino Unido e agora com nacionalidade britânica, acredita que o país beneficiaria com eleições antecipadas - até para forçar o aparecimento de novas figuras -, mas compreende que o Partido Conservador não queira abdicar do poder.
Só que há um problema: depois da "purga" feita por Boris Johnson, anterior primeiro-ministro, que correu com todos os que eram contra o Brexit, "desapareceram do grupo parlamentar do Partido Conservador todos os intelectuais" e "ficaram só os seus amigos no parlamento". Mas é dali que vai sair o novo primeiro-ministro (e de onde sai qualquer governante).
As possibilidades são limitadas, e até o regresso de Boris Johnson está a ser equacionado. O "Hasta la vista, baby", repetido pelo ex-primeiro-ministro à laia de Exterminador, tem, como Arnold Schwarzenegger, a sua quota de fãs. "BoJo" já tem mais de 50 apoiantes (precisa de 100 para entrar de novo na corrida), mas Pedro Caetano lembra que, entretanto, também fez inimigos, que dificilmente vão querer tê-lo como chefe, porque "ele é implacável".
Por isso, a aposta de Pedro Caetano vai para Rishi Sunak, ex-financeiro milionário."Quem nos dera ter um Horta Osório, um banqueiro, a liderar Portugal", compara.
Com um senão. É que o ex-ministro das Finanças britânico, que já concorreu à liderança do Partido Conservador e foi derrotado na fase final das eleições internas, foi protagonista de um enorme aumento de impostos no período Covid. Mas, "ao mesmo tempo que impunha à classe média impostos tremendos, tinha a mulher a arranjar estratagemas fiscais para fugir, mesmo sendo muito mais capaz de os pagar".
E até o líder do Partido Trabalhista [Labour Party], Keir Starmer, "parece uma pessoa mais séria, mais íntegra, mais honesta que qualquer um dos candidatos a líderes do Partido Conservador". Isto, dito por um socialista.
Mas a preferência de Pedro Caetano vai para Jeremy Hunt, o novo ministro das Finanças, que cancelou quase todas as medidas fiscais de Liz Truss. Tem experiência, é ex-ministro da Saúde (de David Cameron e de Theresa May) e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros (de May). "Não é carismático, mas ninguém o considera uma pessoa desonesta e sempre teve uma boa performance em termos de resultados". Contra si tem apenas o facto "de ser branco", num país em que "ser woke é quase uma religião".
O Reino Unido continua a ser uma potência - e tem, entre outras coisas, o maior exército da Europa. Mas o sonho do Brexit começa a transformar-se num pesadelo e no Verão a J.P. Morgan já veio dizer que a probabilidade de o país entrar em recessão dentro de um ou dois anos está a aumentar.
Pedro Caetano lembra os problemas graves que afetam a classe média e diz mesmo que foram motivo suficiente para o fazerem ter domicílio fiscal nos EUA, apesar de tão recentemente ter adquirido cidadania britânica e de ter escolhido o Reino Unido para viver e trabalhar por estar "a dez euros de Portugal", que é quanto custa um bilhete da Ryanair de Londres a Lisboa.
"O Reino Unido tem um problema severo de gente que vive de benefícios. Metade da população vive a trabalhar, sobrecarregada de impostos, para a outra metade, que vive de benefícios sociais", diz. E dá o exemplo da região em que vive: "Do orçamento de Oxford Council, 52% vai para apoios sociais".
A primeira-ministra quis baixar os impostos, mas esqueceu-se da outra parte da equação, e queria manter a despesa. "Liz Truss foi um bocadinho parecida com António Costa, mas estamos habituados a maior rigor na Inglaterra. Ela pensava que podia ser comunista e capitalista ao mesmo tempo".
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