“A nossa posição tem de ser sempre uma posição de salvaguarda dos interesses da nossa comunidade residente e, obviamente, eu acho que Portugal tem de atuar no quadro do espaço político de que faz parte, que é a União Europeia, mas tem de manter um relacionamento especial com a nossa comunidade na Venezuela”, afirmou Miguel Albuquerque.
O chefe do executivo madeirense, que falava à margem de uma visita à exposição ‘Natal na Casa da Calçada’, na Casa-Museu Frederico de Freitas, no Funchal, reagia assim à tomada de posse hoje do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, apesar de a oposição reivindicar vitória nas eleições presidenciais de julho e após protestos no país sul-americano e no estrangeiro contra a repressão exercida pelo seu Governo.
“Eu acho que, neste momento, Portugal deve seguir aquilo que são as regras da União Europeia”, disse, acrescentando: “Nós temos de ter sempre muito cuidado, porque temos uma comunidade muito grande na Venezuela.”
Questionado sobre quem devia tomar posse como Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro ou o candidato da oposição Edmundo González, o chefe do Governo Regional optou por não indicar um nome, sublinhando, no entanto, que a sua posição está “em consonância com aquilo que é a posição do Estado português”.
“Eu tenho de ser prático e, sobretudo, tenho que pensar na nossa comunidade”, disse, para logo reforçar: “Nós temos de salvaguardar os nossos princípios, mas eu tenho de manter uma ligação, como sempre mantive, à Venezuela e às autoridades venezuelanas, porque qualquer situação com a nossa comunidade tem de ser resolvida”, afirmou.
Em 05 de novembro de 2024, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, explicou que Portugal não reconhece os resultados das eleições presidenciais de 28 de julho de 2024 na Venezuela, cuja vitória foi atribuída pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) a Nicolás Maduro.
Hoje, na visita à Casa-Museu Frederico de Freitas, Miguel Albuquerque sublinhou ser necessário “cuidado” na relação com as autoridades venezuelanas, lembrando que a região apoia várias associações no país que operam junto da comunidade madeirense, estimada em cerca de 300 mil pessoas, entre primeira e segunda gerações.
O presidente do Governo Regional indicou que a região está recetiva para acolher o regresso de emigrantes devido à instabilidade na Venezuela, tal como o fez entre 2016 e 2018, quando recebeu cerca de 11 mil pessoas.
“Esta comunidade está muito bem integrada na Madeira e veio contribuir para a dinamização da economia da Madeira”, disse, salientando que a posição do executivo é de “acolhê-los, se for o caso disso, com todo o carinho e com toda a fraternidade”, acrescentou.
“Há muita gente que se esquece agora, quando começam com estas tiradas racistas, que Portugal foi um país de emigrantes e não há nenhuma família na Madeira, já agora também é bom dizer isso (...), que não tenha no seu passado situações de emigração”, advertiu.
Em 28 de julho de 2024, a Venezuela realizou eleições presidenciais, cuja vitória foi atribuída pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) a Nicolás Maduro com pouco mais de 51% dos votos, ao passo que a oposição afirma que Edmundo González Urrutia obteve quase 70% dos votos.
A oposição venezuelana e vários países da comunidade internacional denunciaram os resultados como fraudulentos e exigiram uma verificação independente dos registos de votação, o que levou à contestação dos resultados nas ruas.
Após a sua vitória contestada, Maduro reprimiu os protestos em massa, o que resultou em 28 mortos, cerca de 200 feridos e 2.400 detidos, três dos quais morreram na prisão.
Nicolás Maduro tomou posse hoje para um mandato de seis anos.
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