De acordo com o Público, o ano passado registaram-se 2.557 provas classificadas com 20 valores e 5.929 com 19, num total de 8.486 exames. Já em 2020, o número de notas de 20 valores subiu para 3.477 e verificam-se 12.073 exames com nota 19, numa soma de 15.550 provas com estas classificações máximas. Os dados foram divulgados nos gráficos de distribuição das classificações por disciplina do Júri Nacional de Exames (JNE).
Feitas as contas, considerando o número total de exames realizados, este resultado corresponde a 6,8% das 227.962 provas realizadas este ano. Em 2019, as notas máximas correspondiam a apenas 2,6% dos 321.833 exames feitos pelos alunos.
Este ano, contudo, registaram-se diferenças que têm de ser consideradas. Pelo meio de uma pandemia mundial, os alunos do secundário estiveram em casa quase dois meses e voltaram às escolas no mês de maio, com regras específicas, para se prepararem para os exames nacionais.
Segundo Adão Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Professores de Biologia e Geologia, "um olhar descontextualizado pode levar a pensar que estamos perante uma geração de alunos excepcionais, mas uma leitura mais apurada revela outras questões", referiu ao jornal. Neste exame — que geralmente tem resultados negativos e uma média que ronda os 10 valores — os bons resultados também se verificaram: a média subiu para 14.
E o que justifica esta alteração de notas? "As explicações para estes resultados parecem revelar as opções tomadas pelo Instituto de Avaliação Educativa [IAVE] para mitigar eventuais constrangimentos decorrentes da pandemia", afirmou.
"A possibilidade de o aluno poder errar oito questões, sem penalização, traduziu-se numa medida determinante para a melhoria das classificações finais. Além disso, o exame foi resolvido apenas pelos alunos que o escolheram como possível prova de acesso ao ensino superior", lembrou Adão Mendes.
Filipe Oliveira, presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, traz um problema à situação: "A questão é saber se serão os alunos mais bem preparados que irão entrar nos cursos mais competitivos", atira.
"Os bons alunos tiraram 19 ou 20 no exame, mas muitos alunos mais fracos também o conseguiram porque as perguntas que seleccionam os estudantes não cumpriram o seu papel, já que eram opcionais", explica.
Posto isto, "o que vai diferenciar os estudantes no acesso ao superior será a nota interna. Ficará à frente quem inflaciona as notas, o que constituirá uma tremenda injustiça para os alunos que se esforçaram", reflete.
Médias subiram em 2020
De acordo com os dados do Júri Nacional de Exames, divulgados pelo Ministério da Educação, as notas médias nos exames do 12.º ano realizadas pelos alunos internos (aqueles que frequentaram as aulas em todo o ano letivo) subiram este ano em quase todas as disciplinas, com algumas a registarem um aumento superior a três valores.
Na prova de Biologia e Geologia, a mais realizada este ano e importante para os alunos que querem entrar em Medicina, a média aumentou em 3,3 valores, registando uma classificação média de 14 valores.
Também em Física e Química os alunos conseguiram melhorar os resultados em relação ao ano anterior em 3,2 valores, passando a nota média dos 10 valores para os 13,2 valores.
Em tendência oposta, as únicas descidas registaram-se nos resultados das provas de Geometria Descritiva A, cuja classificação média caiu em 2,3 valores, e em Matemática Aplicada às Ciências Sociais, que registou este ano a única classificação média negativa: 9,5 valores, menos 1,5 em relação a 2019.
Português e Matemática A, duas das provas mais importantes, registaram também melhorias, ainda que não tão significativas: a Português a média subiu dos 11,8 valores em 2019 para os 12 valores, e a Matemática subiu dos 11,5 valores para os 13,3 valores.
A maior subida foi registada em Francês, que passou dos 11,3 valores em 2019 para os 15,1 (mais 3,8 valores), seguida de Alemão com 16,1 valores (mais 3,5), Geografia A com 13,6 valores e Biologia e Geologia (ambas registaram mais 3,3 valores).
A média mais elevada foi registada em Mandarim (iniciação), com os seis alunos que realizaram a prova a conseguirem uma classificação média em exame de 16,9 valores.
Entre as disciplinas com um número de alunos superior a 2.500, foi a Inglês que os estudantes conseguiram a melhor classificação média, com 15 valores.
História A e História da Cultura das Artes voltaram a subir este ano, depois de em 2018 terem registado uma queda para valores negativos, registando agora uma média de 13,4 valores e 13,6 valores, respetivamente.
Num comunicado, o Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), responsável pela elaboração e aplicação das provas nas escolas, sublinha que este ano os alunos realizaram os exames finais nacionais apenas nas disciplinas que elegeram como provas de ingresso, justificando assim os resultados positivos.
As novas regras, aplicadas este ano como medida excecional devido à pandemia da covid-19, explicam também o menor número de inscritos, em relação ao ano anterior, que se refletiu no número também menor número de provas realizadas.
Este ano os exames realizaram-se em 643 escolas de todo o território nacional e nas escolas no estrangeiro com currículo português, com 257.330 inscrições na primeira fase dos exames nacionais (menos 70.300 em relação a 2019) e 227.962 provas realizadas (menos 93.871).
“Entre as 24 disciplinas sujeitas a exame nacional, a que registou um maior número de provas realizadas foi a de Biologia e Geologia, com 41 460 provas, logo seguida por Física e Química A, com 39 444 provas, Português, com 36 622 provas, e Matemática A, com 35 724 provas”, detalha o organismo em comunicado.
A classificação das provas envolveu 9.400 docentes do ensino secundário e durante a primeira fase dos exames nacionais, que ficou concluída em 23 de julho, colaboraram 10 mil professores vigilantes e pertencentes aos secretariados de exames das escolas.
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