Há cada vez mais docentes a chegar à reforma e os que estão a estudar para serem professores não serão suficientes para colmatar as saídas, revela o estudo “Reservas de Professores sob a lupa: antevisão de professores necessários e disponíveis” do gabinete de estudo na área da educação da Fundação Belmiro de Azevedo.
O estudo mostra também que em 2031 as escolas poderão ter de lidar com um problema muito mais grave do que o que se vive atualmente.
Se em 2021, a falta de professores se sentia apenas no momento em que era preciso substituir quem faltava, em 2031, a situação ganhará escala e será um problema estrutural, conclui a investigação coordenada por Isabel Flores.
Em 2021 faltavam três mil docentes e, em 2031, “assistiremos a 8.700 professores por colocar em vagas permanentes e à falta de 15.700 professores para substituir colegas ausentes”, lê-se no estudo hoje divulgado a que a Lusa teve acesso.
Se nada mudar, vão faltar professores de todas as áreas e níveis de ensino, à exceção de Educação Física, alerta o estudo que aponta para muito mais alunos sem aulas, em especial entre o 7.º e o 12.º anos.
Mas a falta de docentes irá agravar-se já dentro de dois anos a algumas disciplinas, segundo os investigadores que compararam as necessidades das escolas e os professores disponíveis e com formação necessária.
Os investigadores analisaram a situação vivida no ano passado e concluíram que já nessa altura “não foi possível substituir grande parte dos professores”.
O problema notou-se menos entre as crianças, porque há mais docentes de educação pré-escolar e 1.º ciclo, mas mesmo assim a taxa de sucesso de substituição de professores pedidos pelas escolas foi de apenas 83% e de 88%, respetivamente.
No 2º ciclo, a taxa desceu para 67%, uma média que esconde realidades como as carências a Português e Inglês, com as escolas a conseguirem substituir apenas 37% dos pedidos.
Mas é a partir do 7.º ano que a situação se agrava, em especial para as disciplinas de Economia, Geografia, Informática, Matemática, Biologia e Geologia, e Física e Química.
O grupo de Informática está em carência em praticamente todo o país, destacando-se as escolas do sul que só conseguiram substituir cerca de 10% dos professores em falta.
Fazendo um zoom pelo país, notam-se desigualdades regionais: No Baixo Alentejo é onde faltam mais educadores para o pré-escolar (35% não foram substituídos) e o litoral destaca-se por ter mais carência de docentes para o 1.º ciclo, juntamente com a Área Metropolitana de Lisboa e o sul do país.
Estas três zonas – Lisboa, Alentejo e Algarve - há muito que já estão identificadas como as mais carenciadas, porque é no norte que a maioria dos alunos conclui a formação exigida para dar aulas, não querendo depois afastar-se muito de casa.
Perante este cenário, o Edulog faz algumas recomendações, como aumentar o número de vagas nos cursos de formação de professores, especialmente em áreas mais críticas.
No entanto, o impacto desse aumento de vagas só se poderá sentir daqui a três anos, com a saída de professores com habilitação suficiente, ou cinco anos para professores com habilitação própria.
A criação de incentivos financeiros, a melhoria das condições de trabalho e oportunidades de progressão na carreira são outras das propostas feitas pelos investigadores.
Neste estudo, não foram consideradas as medidas da atual equipa governativa, como o plano “Mais Aulas, Mais Sucesso”, que tem como objetivo reduzir os alunos sem aulas, ou o apoio financeiro dado aos professores deslocados.
Estas medidas “têm um impacto meramente conjuntural”, ou seja, “o problema estrutural continua lá”, disse o porta-voz do Edulog, David Justino, em declarações à Lusa.
Para o ex-ministro da Educação, as medidas apresentadas pela equipa liderada por Fernando Alexandre têm “um efeito conjuntural, permitindo que se adotem, em seu devido tempo, outro tipo de medidas com maior impacto estrutural”.
O estudo hoje divulgado recomenda a criação de uma estratégia nacional para a gestão das reservas de recrutamento dos professores.
Os investigadores analisaram também a falta de professores noutros países - desde a Lituânia à Alemanha, passando pela Nova Zelândia, Reino Unido e até pelo estado da Washington - e concluíram que nenhum dos países estudados conseguiu resolver na íntegra o problema, mesmo depois de 30 anos de variadas políticas públicas.
No entanto, os investigadores concluíram que as políticas que preveem o pagamento dos custos de deslocação aparentam ter sucesso na redistribuição territorial dos professores.
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