“Pensamos, à semelhança do que tem sido a regra, que esta variação de mortalidade se relaciona com a meteorologia”, disse à Lusa a diretora da Direção de Informação e Análise da DGS, Inês Fronteira, acrescentando: “É um fenómeno que preocupa mas não é novidade, nem ao nível do país nem ao nível do que se passa noutros países”.
A Lusa questionou a responsável a propósito de uma notícia de hoje do jornal Público, que dá conta que o mês passado foi o julho com mais mortes em 12 anos, sendo que a covid-19 só explica 1,5% destes óbitos.
“No mês passado morreram em Portugal 10.390 pessoas, o valor mais alto registado nos meses de julho em 12 anos”, tendo morrido mais 2.137 pessoas do que no mesmo mês do ano passado, cerca de 26% mais, diz o jornal, citando ainda especialistas que apontam como possíveis causas a falta de acesso ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) devido às restrições causadas pela pandemia de covid-19.
Inês Fronteira, nas declarações à Lusa, admitiu que a covid-19 possa ter alguma influência indireta, não por falta de acesso a cuidados de saúde, mas por poder provocar, como qualquer outra infeção, um desequilíbrio em pessoas que já sofrem de alguma doença.
“Quando a pessoa tem um problema de saúde subjacente, como a diabetes, pode acontecer que quando esteja exposta a outra patologia haja uma descompensação do seu estado de saúde. E isto é verdade para qualquer outro tipo de doença aguda”, disse.
Ainda assim, afirmou a Inês Fronteira, serão as ondas de calor de julho que explicam o aumento de mortes em pessoas mais idosas. É comum aumentos de mortalidade nas ondas de calor e nas ondas de frio, não só em Portugal como no resto do mundo, e por isso é que são feitas comunicações à população quando elas acontecem, frisou a responsável.
No mês de julho, disse, as semanas com mais mortes coincidiram com as semanas em que as temperaturas foram mais elevadas.
De resto, acrescentou, “estes fenómenos precisam de algum tempo para serem analisados”, porque os “dados brutos, ao minuto, carecem de todo um tratamento”.
Questionada se caso haja uma nova vaga de calor o número de mortes tenderá a aumentar, Inês Fronteira diz ser normal que sim, porque já aconteceu em Portugal e também acontece noutros países. E especialmente junto de populações como crianças, idosos e pessoas vulneráveis em termos de saúde.
A DGS explica que nas semanas de 6 a 12 de julho e 20 a 26 de julho “foram observados valores de mortalidade por todas as causas acima do esperado para a época do ano”.
“Estes valores foram observados em todas as regiões de saúde de Portugal, à exceção das regiões autónomas, e nos grupos etários acima dos 75 anos de idade, sendo coincidentes com um período de temperaturas elevadas registadas em Portugal Continental”, diz também a DGS.
E conclui, num comunicado enviado à Lusa: “Neste período, foram emitidos alertas do sistema de vigilância de calor (Boletim Ícaro), o que parece confirmar que o calor extremo é a causa mais provável do aumento da mortalidade nos grupos etários acima dos 65 anos de idade”.
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