“Não há plataformas sindicais, não há política nenhuma à volta. Isto é o descontentamento ao longo dos anos”, salientou, à Lusa, Paulo Carvalho, de 48 anos e há 24 integrado no Regimento de Sapadores Bombeiros do Porto, desvalorizando o facto de os mais de cem manifestantes se terem apresentado com barretes pretos de pai-natal e camisolas com frases alusivas ao protesto.

“Somos uma organização organizada em Portugal, por isso estamos preparados para tudo. […] Foi desta forma simbólica que viemos até à Assembleia da República apelar, uma vez mais, que, ao fim destes 23 anos, olhem para esta profissão com a dignidade que merece e o respeito que nós merecemos”, afirmou, em frente à Assembleia da República.

Junto à grade colocada na escadaria do Palácio de São Bento, foram colocados presentes de Natal destinados ao Governo. Dos embrulhos, constam inscrições que contestam o que tem sido proposto pela tutela, nomeadamente a atribuição de um subsídio de risco fixo de 50 euros em 2025, de 75 em 2026 e de 100 em 2027.

Questionados pelos jornalistas sobre quem lidera a manifestação, os bombeiros foram unânimes em assegurar que a “organização foi de todos”.

“Isto é aleatório, não há aqui ninguém que esteja a liderar isto. Existe uma insatisfação que é representativa de todos os elementos que aqui estão. Há várias pessoas que nos dão esclarecimentos sobre as negociações [com o Governo], nomeadamente pessoas dos sindicatos, e, assim que nos dão as informações, fazemos estas ações de luta que nada têm a ver com os sindicatos”, resumiu, à Lusa, Jorge Santos, de 49 anos, 30 dos quais a trabalhar no Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa.

O protesto surge 20 dias após uma outra manifestação de sapadores bombeiros no centro de Lisboa ter ficado marcada pelo rebentamento de petardos e o lançamento de tochas e fumos, levando o Governo a suspender as negociações. Hoje, Paulo Carvalho alegou que a imagem deixada foi apenas “de descontentamento e de tristeza” dos profissionais.

O desfile desta manhã, acompanhado de músicas natalícias e distribuição de rebuçados e desejos de "feliz Natal" a quem passava na rua, decorreu sem incidentes.

“Nós fazemos sempre de forma pacífica. Somos ordeiros. Hoje, [o protesto] foi trazermos umas prendas ao Governo, […] para sensibilizar para a data que estamos a comemorar – amanhã é o Natal – e para o Governo nos dar mais do que está a dar”, defendeu Pedro Ferreira, bombeiro sapador no Porto, de 46 anos.

Frederica Pires, de 42 anos e bombeira sapadora em Lisboa, promete “estar sempre presente quando for para lutar pela dignificação da carreira”.

“Exigimos uma regulamentação da carreira, que há 22 anos que não é regulamentada, um subsídio de risco plausível, uma carreira atrativa, e respeito da parte do Governo quando se senta à mesa de negociações e quando fala de sapadores”, sustentou, lembrando que, só na cidade de Lisboa, é dada resposta a mais de 21 mil ocorrências por ano.

O descontentamento é acentuado pelo que os manifestantes acreditam ser o tratamento diferenciado face a outras profissões. “Sempre tivemos alguma compreensão, porque quando está mal, está mal para a toda a gente. E agora, nos últimos tempos, vimos que outras carreiras foram valorizadas, e bem, mas a nossa ficou esquecida”, resumiu Jorge Santos.

Além do Porto e de Lisboa, participaram ainda na manifestação bombeiros de Coimbra.

Os sapadores são funcionários das autarquias, mas a sua carreira é regulada pelo poder central, o que acrescenta complexidade às negociações.

O Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores (SNBS) já agendou uma greve nacional a 15 de janeiro e uma manifestação para junto da Assembleia da República.