"O fotógrafo francês foi uma das testemunhas do duro quotidiano dos compatriotas que viveram os primeiros anos da maior vaga de emigração para França, sendo simultaneamente amigo e companheiro de tantos portugueses que ali construíram o seu futuro", referiu o chefe de Estado português numa mensagem na página oficial da Presidência da República.
Gérald Bloncourt imortalizou a emigração portuguesa em França nos anos 1960 e 1970, nomeadamente nos bairros de lata e nas viagens clandestinas para aquele país, e também registou imagens de Portugal sob a ditadura e no período que se seguiu ao 25 de Abril de 1974.
Bloncourt nasceu em 1926, no Haiti, de onde foi expulso no final da década de 1940 por razões políticas e passou a residir em Paris, onde iniciou uma carreira de fotojornalista que o levou ao encontro dos portugueses nos anos 60 nos bairros de lata dos subúrbios da capital francesa.
"Era uma forma de escravatura moderna. Havia lama no inverno, era frio. Eram barracas feitas com tábuas, bocados de chapa. Era uma vida difícil, muito rude. Os homens iam trabalhar para as obras, as mulheres ficavam com as crianças", recordou, o fotógrafo à Lusa, em abril de 2015.
O primeiro "bidonville" que o repórter fotografou foi o de Champigny-sur-Marne, nos arredores de Paris, mas a abordagem não foi fácil: "Quatro portugueses viram-me e apanharam-me. Pensavam que eu era um polícia. Prenderam-me e meteram-me lá num edifício feito de tábuas. Havia lama por fora, mas lá dentro era asseado e tínhamos de tirar os sapatos."
Marcelo Rebelo de Sousa recorda na mensagem o "espírito de missão pela defesa da dignidade humana junto da comunidade portuguesa" e que condecorou o fotojornalista com o grau de Comendador da Ordem do Infante Dom Henrique em 2016.
O funeral de Gérald Bloncourt está previsto para 05 de novembro, no cemitério Père Lachaise, em Paris.
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