“Era uma daquelas figuras sem as quais nenhuma cultura saudável vive: o fazedor talentoso que cuida da sua obra, mas promove sobretudo a dos outros”, referiu o chefe de Estado português numa nota publicada no portal da Presidência da República na Internet.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, a “morte precoce” de João Paulo Cotrim é uma “notícia triste para a cultura portuguesa”, bem como “para as artes das quais foi durante décadas um ativíssimo criativo e um incansável dinamizador”.
“Homem de muitos ofícios, escreveu livros para a infância, em colaboração com alguns dos mais talentosos desenhadores jovens, como João Fazenda ou André Letria, foi guionista, ficcionista, poeta, jornalista, cronista e ensaísta, além de biógrafo de Stuart Carvalhais e Rafael Bordalo Pinheiro, linhagem da qual descendia”, sublinhou.
“Três dos projetos da sua vida foram a Bedeteca de Lisboa, de que foi o primeiro diretor, o Salão Lisboa de Ilustração e Banda Desenhada e a editora Abysmo. Em todos eles, e em muitos outros, congregou vontades, homenageou os mestres, incentivou os novos, aproximou gerações, exercitou a imaginação e o humor”, realçou Marcelo Rebelo de Sousa, endereçando “sentidos pêsames” à família.
Ministra da Cultura lamenta morte do editor "exemplar e modelar"
A ministra da Cultura, Graça Fonseca, lamentou hoje a morte do escritor, jornalista e editor João Paulo Cotrim, que classificou de uma “figura emblemática da edição independente e da divulgação de banda desenhada em Portugal”.
“A cultura portuguesa perde, hoje, um editor exemplar e modelar, que com rigor, profissionalismo e uma boa disposição permanente, deixou uma marca inapagável na edição independente em Portugal e na divulgação da banda desenhada e da ilustração entre nós”, refere Graça Fonseca numa nota de pesar.
João Paulo Cotrim, natural de Lisboa, morreu hoje aos 56 anos.
Para a ministra da Cultura, “o percurso profissional de João Paulo Cotrim é indissociável do seu trabalho como editor de livros e revistas, reconhecido por quem com ele trabalhou e pelos muitos leitores que conquistou como um editor completo, simpático e empenhado”.
“Nas editoras Abysmo e Arranha-Céus ou em revistas como a Lua Cheia, a LX Comics ou a Ícon, o seu trabalho foi inovador, tanto nas abordagens como nos formatos, destacando-se pelo investimento, muitas vezes arrojado, na componente gráfica das obras e periódicos que editava”, afirmou.
Graça Fonseca considera que, “numa carreira multifacetada, em que se notabilizou como autor, editor, jornalista e guionista, importa também realçar o seu compromisso profundo com a programação literária e com a promoção da leitura”.
“Para além do seu notável trabalho como escritor de literatura infantojuvenil, merece especial destaque o seu contributo, enquanto coordenador, na Casa da Leitura, da Fundação Calouste Gulbenkian, e a direção da Bedeteca de Lisboa entre a sua fundação e 2002, tendo, neste último projeto, um impacto muito significativo na preservação, promoção e divulgação da banda desenhada, da ilustração e do cartoon em Portugal, bem como no estímulo à criação nestes meios por parte de autores portugueses”, lê-se na nota.
João Paulo Cotrim morreu hoje em Lisboa, aos 56 anos, vítima de doença, disseram à agência Lusa fontes próximas da família.
João Paulo Cotrim dirigiu a Bedeteca de Lisboa desde a sua abertura, em 1996, e até 2002. Durante este período organizou várias iniciativas e exposições.
Foi diretor do Salão Lisboa de Ilustração e Banda Desenhada durante quatro edições e responsável pela sua programação e dos catálogos e da mostra Ilustração Portuguesa.
Guionista para filmes de animação, João Paulo Cotrim escreveu novelas gráficas, ensaios e poesia e histórias para crianças e adultos. Foi jornalista e era editor da Abysmo.
Na sua vasta obra encontram-se novelas gráficas (“Salazar – Agora, na Hora da Sua Morte”), ficção (“O Branco das Sombras Chinesas”, com António Cabrita), ensaios (“Stuart – A Rua e o Riso” ou “El Alma de Almada El Ímpar” – Obra Gráfica 1926-1931), aforismos (“A Minha Gata”) e poesia (“Má Raça”, com Alex Gozblau), além de histórias para as infâncias (“Querer Muito”, com André da Loba).
João Paulo Cotrim foi ainda professor no Ar Co, no departamento de Ilustração e BD, bem como no IADE - Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação, e colaborou no Instituto Português do Livro e das Bibliotecas (IPLB).
No seguimento do confinamento imposto pela pandemia de covid-19, João Paulo Cotrim criou, em 2020, “Torpor. Passos de voluptuosa dança na travagem brusca”, uma revista digital gratuita criada e disponibilizada pela editora Abysmo.
Entre os vários órgãos de comunicação social em que trabalhou consta a Revista Ler, Elle, Máxima, Marie Claire, Oceanos, Visão, Grande Reportagem, Colóquio-Letras, Der Spiegel, Le Monde e o suplemento DNA.
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