“Delors foi essencial para fazer a Europa que temos. Ele fez o alargamento, nós devemos a entrada de Portugal [na UE] a Delors porque deu a volta a vários países que estavam contra, fez o aprofundamento, a União Europeia, o euro. E nós portugueses nunca esqueceremos que esteve sempre ao nosso lado, quando outros não estavam”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.

Falando aos jornalistas portugueses que acompanham em Paris a homenagem de França a Jacques Delors, que morreu a 27 de dezembro, aos 98 anos, o chefe de Estado português acrescentou: “Foi sempre um homem do social, dos direitos sociais, das pessoas, e não da Europa dos negócios, das economias e finanças apenas”.

“Falta continuar os alargamentos, aprofundar a parte social, olhar por exemplo para a saúde após a lição da pandemia […], mas uma Europa muito mais próxima dos direitos das pessoas. Será a única maneira de combater os populismos”, adiantou o Presidente da República, nestas declarações prestadas no edifício do Hôtel des Invalides, local escolhido para a cerimónia.

Vários líderes europeus, incluindo o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, participam hoje em Paris na homenagem da França ao político e antigo presidente da Comissão Europeia Jacques Delors.

Durão Barroso diz que tanto a Europa e como Portugal devem muito ao antigo presidente

“Acho que a Europa lhe deve muito e acho que Portugal lhe deve muito também”, declarou José Manuel Durão Barroso, falando aos jornalistas portugueses que acompanham em Paris a homenagem de França a Jacques Delors, que morreu em 27 de dezembro, aos 98 anos.

Nas declarações prestadas no edifício do Hôtel des Invalides, local escolhido para a cerimónia, o antigo presidente português da Comissão Europeia recordou as suas “memórias muito fortes” com Jacques Delors.

“Trabalhei com ele na altura como ministro dos Negócios Estrangeiros e depois, quando era presidente da Comissão Europeia, tive várias vezes ocasião de me encontrar também com o presidente Delors. Era um homem excecional, um grande europeu, alguém que combinava uma grande ambição e sonho para a Europa, ao mesmo tempo com um método muito prático e pragmático, muito realista”, elencou.

De acordo com Durão Barroso, Delors “era visionário, mas era pragmático e conseguia combinar a visão e o sonho europeu com passos concretos e realistas”.

“Por exemplo, fez muito no mercado interno, mas não avançou na altura – porque também não podia – na questão da defesa europeia ou da política externa europeia. Eu acho que é exatamente isso que falta hoje”, acrescentou.

E defendeu: “O que falta hoje na Europa é uma projeção geopolítica mais forte”.

Durão Barroso adiantou que a UE está a “deixar a adolescência geopolítica” uma vez que, “por causa da situação externa cada vez mais difícil, os europeus estão a acordar para a necessidade de se defenderem, de afirmarem sem complexos os seus interesses”.

“Mas a verdade é que há um longo caminho a percorrer”, concluiu.

A cerimónia de hoje é presidida pelo chefe de Estado francês, Emmanuel Macron. O Estado francês pretende homenagear um “arquiteto da Europa unida” sem o qual a França seria “menos dona do seu destino”, segundo a Presidência francesa.

A França convidou todos os chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE), bem como os presidentes das instituições comunitárias, atuais ou em exercício enquanto o social-democrata Jacques Delors esteve em Bruxelas de 1985 a 1995.

Marcelo Rebelo de Sousa estará acompanhado pelo antecessor, Aníbal Cavaco Silva, que também “foi primeiro-ministro durante todo o período dos mandatos” de Delors, e por Durão Barroso, que presidiu à Comissão Europeia entre 2004 e 2014.

Entre os dirigentes que confirmaram a presença estão também o Presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, e os primeiros-ministros da Bélgica e da Hungria, Alexander De Croo e Viktor Orbán, respetivamente.

Figura da construção do projeto europeu e considerado o “pai do euro”, Jacques Delors foi presidente da Comissão Europeia entre 1985 e 1995 (durante três mandatos).

No seio da UE, ficou conhecido por ter aprovado o Ato Único Europeu, em 1986, que levou à criação do Mercado Único, o primeiro do género ao nível mundial, em 1993.

Foi protagonista na transformação da Comunidade Europeia em União Europeia, o que permitiu uma transição para a moeda única (o euro) e para uma maior cooperação ao nível da defesa.

Nome incontornável da esquerda francesa, foi ainda ministro francês das Finanças e eurodeputado.

Jacques Delors frustrou as esperanças desta ala partidária ao recusar apresentar-se às eleições presidenciais de 1995 em França. Na altura, era favorito nas sondagens.

[Notícia atualizada às 10:58]