Durante uma visita ao Centro para as Migrações do Fundão, acompanhada da cabeça de lista do partido às eleições europeias, Catarina Martins, a coordenadora do Bloco de Esquerda disse que uma coisa é ter uma atitude complacente quando a bancada do Chega grita e revela “má educação e desrespeito pela instituição”, outra “é quando o presidente da AR legitima um discurso racista”.
Mariana Mortágua salientou a importância de distinguir o que considera serem comentários racistas ou xenófobos do que é liberdade de expressão.
“Dizer que uma raça é inferior, que uma cor de pele é inferior, que uma pessoa, só porque é turca, é preguiçosa, não é uma opinião, é racismo, é crime, é um crime de ódio, e depois justifica todos os horrores que vão acontecendo”, salientou Mariana Mortágua.
A coordenadora do BE acrescentou que espera que a conferência de líderes possa “discutir este tema e tomar decisões à altura da gravidade daquilo que se passou”.
“Nunca me passou pela cabeça que o presidente da Assembleia da República, um jurista, que conhece a lei, um homem que se afirma um democrata, legitime desta forma o discurso da extrema-direita”, censurou Mariana Mortágua.
A líder do BE acrescentou que a escravatura ou o Holocausto aconteceram porque “as pessoas acreditaram que havia raças inferiores, que havia seres humanos inferiores”.
“O Holocausto foi baseado na ideia de que o outro é inferior, é desumanizado e, portanto, podemos violentá-lo, criticá-lo e insultá-lo sem qualquer consequência e chamar a isso liberdade de expressão”, comparou Mariana Mortágua.
A dirigente do BE explicou a visita ao Fundão por ser “um bom exemplo no acolhimento e na integração de imigrantes” e por ser um município que “está a dar uma lição ao país”.
Segundo Mariana Mortágua, é importante passar mais tempo a mostrar exemplos de como os imigrantes contribuem para a economia, contribuem para combater a desertificação, trazem crianças a escolas de territórios onde elas estavam a fechar, e “passar menos tempo a falar sobre violência e sobre ódio”.
“Portugal não quer ser um país de violência, quer ser um país onde toda a gente vive em segurança, que acolhe, que integra porque precisa, não só porque nós somos um país de emigrantes, porque nós fugimos da guerra, porque nós já fugimos da miséria, porque nós já fugimos da pobreza para tantos países e agora também é altura de nós integrarmos quem nos procura”, reforçou a coordenadora do BE.
Na sexta-feira, Aguiar-Branco afirmou na AR disse que o uso de linguagem que qualifica raças depreciativamente se enquadra na liberdade de expressão e é admissível, depois de o líder do Chega ter dito que os turcos “não eram conhecidos por ser o povo mais trabalhador do mundo”.
No Centro para as Migrações do Fundão residem 140 migrantes, entre estudantes, trabalhadores sazonais e refugiados, a estrutura acompanha 270 pessoas já autonomizadas e pelo espaço, que existe desde 2016, já passaram cerca de 300 migrantes.
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