Segundo o júri, o trabalho de Abramovic faz parte da “genealogia da performance”, com uma componente “sensorial e espiritual” anteriormente desconhecida e carregada de “uma vontade de mudança permanente”, com a busca de “linguagens originais com uma essência profundamente humana”.
“A coragem do Abramovic na sua dedicação à arte absoluta e a sua adesão à ‘avant-garde’ oferecem experiências comovedoras, que exigem um envolvimento intenso do espectador e fazem dela uma das artistas mais emocionantes do nosso tempo”, afirma o júri.
Marina Abramovic nasceu em Belgrado, na então Jugoslávia, a 30 de novembro de 1946, e estudou na Academia de Belas Artes da cidade (1965-1970), tendo completado os seus estudos de pós-graduação na Academia de Belas Artes de Zagreb (Croácia, 1972).
Em 1976, deixou a Jugoslávia e instalou-se em Amesterdão, nos Países Baixos, onde conheceu o artista performativo alemão ocidental Uwe Laysiepen, com quem começou a colaborar explorando os conceitos de ego e identidade artística, as tradições dos seus respetivos patrimónios culturais e o desejo do indivíduo por rituais.
Segundo os críticos, o trabalho de Abramovic explora “os limites do corpo e da mente” através de performances arriscadas e complexas, numa busca constante de liberdade individual, tendo iniciado a sua carreira como artista performativa nos anos 70 do século passado.
Entre as suas principais obras estão a série “Ritmos”, “Lips of Thomas”, “Balkan Baroque” ou “The Artist is Present”, esta última feita em 2010 no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, onde Abramovic se sentou imóvel numa cadeira oito horas por dia, ao longo de três meses, encontrando o olhar de mais de mil visitantes .
Um dos seus trabalhos mais conhecidos pertence à série “Ritmos”, com o número zero, em que Abramovic “se colocou nas mãos do seu público”, como se pode ler na página do nova-iorquino Museu de Arte Moderna.
Esta colocação era literal: Marina Abramovic dava a escolher aos visitantes 72 objetos, desde uma pena e batom a uma arma de fogo, para que pudessem ser usados da forma pretendida pelo utilizador.
“No princípio, o público estava a brincar comigo. Mais tarde, ficou mais e mais agressivo. Foram seis horas de verdadeiro horror. Cortaram-me as roupas. Cortaram-me com a faca, perto do pescoço, e beberam o meu sangue, depois puseram gesso sobre a ferida. Carregaram comigo, meio despida, puseram-me sobre a mesa e espetaram a faca entre as minhas pernas na madeira”, lembrou Abramovic, anos depois.
Este foi o primeiro dos oito Prémios Princesa das Astúrias a ser entregue este ano e ao galardão das Artes foram apresentadas 59 candidaturas de 24 nacionalidades.
Cada prémio consiste numa escultura do pintor e escultor espanhol Joan Miró — símbolo que representa o galardão -, 50.000 euros, um diploma e uma insígnia, que até 2019 foi entregue numa cerimónia solene presidida pelo rei de Espanha, Felipe VI, no teatro Campoamor, em Oviedo.
O Prémio das Artes foi concedido, em anos anteriores, a personalidades ou entidades como os compositores Ennio Morricone e John Williams (2020), o encenador britânico Peter Brook (2019), o ilustrador e realizador de cinema de animação William Kentridge (2017), o cineasta Francis Ford Coppola (2015), o arquiteto Norman Foster (2009), o músico Bob Dylan (2007) e o realizador Woody Allen (2002), entre outros.
O galardão das Artes distingue “o trabalho de criação e aperfeiçoamento da cinematografia, teatro, dança, música, fotografia, pintura, escultura, arquitetura e outras manifestações artísticas”.
Em termos mais gerais, os Prémios Princesa das Astúrias distinguem o “trabalho científico, técnico, cultural, social e humanitário” realizado por pessoas ou instituições a nível internacional.
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