Predadores sexuais, recursos viciantes, suicídio e transtornos alimentares, padrões de beleza irrealistas ou assédio moral são apenas algumas das questões com que os jovens lidam nas redes sociais, e defensores de crianças e legisladores dizem que as empresas não estão a fazer o suficiente para protegê-las.
Os presidentes executivos (CEO) da Meta, TikTok, X (antigo Twitter) e outras empresas de ‘media’ sociais compareceram hoje numa audiência do comité judiciário do Senado, que começou com a divulgação de depoimentos gravados de pais e crianças, que disseram que os seus filhos ou os próprios foram explorados nas redes sociais.
Durante todo o evento, que durou horas, pais que perderam filhos por suicídio seguraram silenciosamente fotos dos mortos.
“Eles são responsáveis por muitos dos perigos que nossos filhos enfrentam ‘online'”, disse Dick Durbin, da maioria democrata no Senado dos EUA, que preside ao comité, no seu discurso de abertura. “Suas escolhas de ‘design’, suas falhas em investir adequadamente em confiança e segurança, sua busca constante por aliciamento e lucro em detrimento da segurança básica colocaram nossos filhos e netos em risco”, acrescentou.
Numa acalorada sessão com Mark Zuckerberg, o senador republicano do Missouri Josh Hawley perguntou ao CEO da Meta se compensou pessoalmente alguma das vítimas e suas famílias pelo que passaram. “Acho que não”, respondeu Zuckerberg.
O senador afirmou que estavam presentes famílias de vítimas e questionou o fundador do Facebook se gostaria de lhes apresentar desculpas. Enquanto os pais se levantavam e mostravam as fotos, Zuckerberg pediu-lhes desculpas pelo que passaram, relatou a agência Associated Press.
O senador republicano continuou a pressionar Zuckerberg, perguntando se assumiria responsabilidade pessoal pelos danos que a sua empresa causou e o CEO manteve a mensagem e repetiu que o trabalho da Meta é “construir ferramentas líderes do setor” e capacitar os pais. “Para ganhar dinheiro”, interrompeu Hawley.
O senador da Carolina do Sul Lindsay Graham, principal republicano no comité judiciário, fez eco dos sentimentos de Durbin e disse estar preparado para trabalhar com os democratas para resolver a questão.
“Depois de anos trabalhando nesta questão com você e outras pessoas, cheguei à seguinte conclusão: as empresas de ‘media’ sociais, tal como são projetadas e operam atualmente, são produtos perigosos”, afirmou Graham.
O senador disse aos executivos que as suas plataformas enriqueceram vidas, mas que é hora de lidar com “o lado negro”.
Na sua intervenção, Jason Citron, da Discord, tal como outros executivos, elogiou as ferramentas de segurança existentes em suas plataformas e o trabalho que realizaram com organizações sem fins lucrativos e autoridades policiais para proteger menores.
A Snapchat antecipou-se e apoia um projeto de lei federal para a criação de responsabilidade legal para aplicações e plataformas sociais que recomendem conteúdo prejudicial para menores. O CEO da rede social, Evan Spiegel, pediu à indústria para apoiar o projeto.
O presidente da TikTok, Shou Zi Chew, disse que a empresa está vigilante em fazer cumprir a sua política que proíbe crianças menores de 13 anos de usar a aplicação.
Linda Yaccarino disse que a X não de destina a crianças — “Não temos um ramo de negócios dedicado às crianças”, considerou –, e avançou que a empresa também apoiará o ‘Stop CSAM Act’, um projeto de lei federal que torna mais fácil às vítimas de exploração infantil processarem empresas de tecnologia.
No entanto, os defensores da saúde infantil dizem que as empresas de redes sociais falharam repetidamente na proteção dos menores.
“Quando você se depara com decisões realmente importantes de segurança e privacidade, a receita final não deve ser o primeiro fator que essas empresas consideram”, apontou Zamaan Qureshi, copresidente da Design It For Us, organização liderada por jovens, que defende ‘medias’ sociais mais seguras.
Senadores republicanos e democratas uniram-se numa rara demonstração de concordância durante a audiência, embora ainda não esteja claro se isso será suficiente para aprovar legislação como a Lei de Segurança Online para Crianças, proposta em 2022 pelos senadores Richard Blumenthal (democrata), do Connecticut, e Marsha Blackburn (republicana), do Tennessee.
A Meta está a ser processada por dezenas de estados norte-americanos que afirmam que projeta deliberadamente recursos no Instagram e no Facebook que viciam crianças nas suas plataformas e não conseguiu protegê-las de predadores ‘online’.
Novos ‘e-mails’ internos entre executivos da Meta divulgados pelo escritório de Blumenthal mostram Nick Clegg, presidente de assuntos globais, e outros pedindo a Zuckerberg que contrate mais pessoas para fortalecer o “bem-estar em toda a empresa”, à medida que crescem as preocupações sobre os efeitos na saúde mental dos jovens.
A Meta reforçou seus recursos de segurança infantil nas últimas semanas, anunciando no início do mês que começará a ocultar conteúdo impróprio de contas de adolescentes no Instagram e no Facebook, incluindo publicações sobre suicídio, automutilação e distúrbios alimentares. Também restringiu a capacidade de menores de receber mensagens de qualquer pessoa e adicionou ‘nudges’ [incetivos] para desencorajar os adolescentes de navegar em vídeos ou mensagens do Instagram noite tardia.
Mas os defensores da segurança infantil dizem que as ações das empresas foram insuficientes.
O canal de vídeos YouTube da Google está ausente da lista de empresas convocadas para a audiência do Senado, embora mais crianças usem o YouTube do que qualquer outra plataforma, de acordo com o Pew Research Center.
O centro de pesquisa descobriu que 93% dos adolescentes norte-americanos usam o YouTube, com o TikTok num distante segundo lugar, com 63%.
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