“Eu concordo que é muito importante que os médicos sejam ouvidos, concordo que os médicos estejam próximos dos decisores e que sejamos capazes de os influenciar, mas o certo é que os médicos de família foram muito pouco ouvidos na construção desse plano. A APMGF, por exemplo, não o foi”, adiantou o presidente da associação.
Nuno Jacinto falava num debate `online´ promovido pela Ordem dos Médicos (OM) sobre o plano de emergência da Saúde aprovado em Conselho de Ministros na última semana e que é composto por 54 medidas urgentes, prioritárias e estruturais divididas por cinco eixos.
Segundo disse, o facto de a associação que representa os médicos de família em Portugal não ter sido ouvida é motivo de preocupação, tendo em conta que o plano do Governo tem um eixo específico para os cuidados de saúde primários.
“É estranho que, dentro dessa área, os médicos de medicina geral e familiar não tenham sido capazes de fazer chegar a sua voz a quem de direito”, lamentou Nuno Jacinto, para quem isso reflete-se na “forma como algumas medidas acabam por não ser exequíveis” para os clínicos que estão no terreno.
Apontou o exemplo da figura do médico assistente prevista no plano, salientando que “um médico assistente não pode ser um colega de outra especialidade ou que não tenha especialidade e que vai substituir” o médico de família nas suas funções.
Na resposta, o coordenador do plano de emergência da Saúde admitiu que o facto de a associação não ter sido ouvida se deveu a um “lapso”, mas salientou que foram auscultadas várias pessoas da área da medicina geral e familiar, incluindo dirigentes sindicais.
Segundo Eurico Castro Alves, que mostrou disponibilidade para se reunir com a APMGF, foram ouvidas 167 instituições e “em nenhuma circunstância se põe em causa o princípio da importância da medicina geral e familiar” em Portugal.
O objetivo é que haja um médico de família para cada cidadão, adiantou ainda o coordenador do plano, para quem a medicina geral e familiar é atualmente um “problema gravíssimo” com uma “grande falta de médicos” nos próximos três anos.
“Nós não temos um número suficiente de médicos especialistas em medicina geral e familiar para corresponder ao desígnio do Governo que é instalar médicos que correspondam a todas as necessidades do país. Não temos agora, mas vamos fazer um esforço grande” em várias áreas, assegurou Eurico Castro Alves.
Sobre a figura do médico assistente, o coordenador do plano explicou que o princípio é de “um médico para quem precisa”, através de uma consulta médica avulsa para um determinado dia e para um determinado doente que “ainda não tenha uma rede de medicina geral e familiar que o posso cobrir”.
“O médico assistente é uma entidade para extinguir logo que tenhamos um médico de família para cada português”, assegurou Eurico Castro Alves, ao reconhecer que é, porém, “uma necessidade para o momento”.
Na sua intervenção inicial, Eurico Castro Alves referiu ainda que os “médicos têm sido empurrados para fora da decisão nos últimos 20 anos”, apesar de serem “quem melhor conhece a realidade e os problemas e as soluções”.
“Na hora de estar presentes”, muitos dos médicos não estão disponíveis, reconheceu o coordenador do plano, para quem os “médicos não podem deixar de estar nos centros de decisão”.
“O principal motivo pelo qual eu aceitei desenvolver e coordenar esse trabalho foi dar uso aquilo que eu defendo”, sublinhou.
O bastonário saudou o facto de a OM ter sido ouvida várias vezes na elaboração do plano para a saúde, que considerou que está “muito bem estruturado”, mas alertou que esse conjunto de medidas não pode ser estático e tem de ter capacidade de adaptação às necessidades dos utentes.
No entanto, “há outros aspetos de interrogação” no plano, considerou Carlos Cortes, que já pediu uma reunião à ministra da Saúde para “esclarecer alguns pontos” previstos nessa estratégia apresentada pelo Governo para a saúde em Portugal.
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