A Ordem dos Nutricionistas (ON) tem seis ideias que gostaria de ver no Orçamento do Estado 2020 (OE2020), tendo enviado uma carta com as medidas ao primeiro-ministro assim como a todos os partidos políticos com representação parlamentar.
“São um conjunto de propostas muito compreensíveis que visam melhorar a saúde através da alimentação, nutrição e do envolvimento dos nutricionistas”, explicou à Lusa a bastonária Alexandra Bento.
A primeira medida passa pelo reforço das verbas investidas em cuidados preventivos: Portugal gasta 1,8% do total em despesas de saúde com cuidados preventivos, enquanto a média da OCDE ronda os 3,2%, segundo a bastonária.
A Ordem quer que Portugal esteja ao lado do resto da Europa e por isso defende um reforço de investimento que permita “atingir em 2020 a média atual da OCDE, ou seja, os 3,2%”.
Para a Ordem, as receitas do imposto especial sobre as bebidas com açúcar e adoçante deveriam ser investidas em cuidados preventivos.
A contratação de mais nutricionistas para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) é outra das propostas da ON que considera haver “um número manifestamente insuficiente” de profissionais.
No próximo ano deveriam ser contratados 55 profissionais para os cuidados de saúde primários. Este aumento traduz-se no reforço “dos agrupamentos de centro de saúde com mais um nutricionista. Continua a ser muito insuficiente, mas queremos que o Governo leve a efeito, todos os anos, o concurso nacional para o incremento deste recurso humano”, explicou Alexandra Bento.
Focada na promoção da saúde, a ON lembra que a escola é o lugar privilegiado para promover e educar para uma alimentação saudável. Por isso, a Ordem volta a lembrar a proposta já feita ao Ministério da Educação de contratar 30 nutricionistas.
“Temos de utilizar a escola como palco de excelência, mas não é responsabilizando os agrupamentos dos centros de saúde pela promoção da alimentação saudável das escolas, porque estes agrupamentos não têm meios suficientes”, criticou.
Também os mais velhos são uma preocupação da ON que exige a presença obrigatória de nutricionistas no setor social e solidário, ou seja, nos lares e centros de dia, “onde os idosos passam grande parte do seu dia”.
“Os nossos idosos que estão nos lares e centros de dia gozam de pior estado nutricional dos que os que não estão”, alertou a bastonária, sublinhando que tal facto revela uma carência de profissionais capazes de providenciar uma boa alimentação.
A medida já tinha sido alvo de uma recomendação da Assembleia da República, no verão do ano passado, e por isso a Ordem pede apenas que o diploma seja posto em prática.
“Não nos podemos esquecer que 15% dos nossos idosos estão em risco de desnutrição, 39% têm peso a mais e 70% dos nossos idosos sofrem de hipertensão”, lembrou.
Também nas autarquias, deverá ser garantida a presença obrigatória de nutricionistas, tendo em conta o processo de transferência de competências: “Só cerca de 10% das autarquias têm nutricionistas nos seus quadros, e só estas trabalham de forma eficiente”, lamentou.
Outra das medidas é a realização sistemática e regular de um Inquérito Alimentar Nacional, a iniciar já em 2020.
“Não podemos deixar que aconteça o que aconteceu no passado. Tivemos o primeiro Inquérito Alimentar Nacional em 1980 e só em 2016 é que voltámos a ter um novo retrato do consumo alimentar da população portuguesa”, recordou Alexandra Bento.
Para a bastonária, este tipo de estudos deve ser feito de cinco em cinco anos: “É importante fazer uma vigilância periódica” que permita ter “dados consistentes” para desenhar as políticas na área, explicou.
A ON pede também que seja criada a carreira especial de nutricionista no SNS e assim regularizar a situação atual que conta com a dispersão do nutricionista por três carreiras diferentes: técnico superior de saúde, técnico superior e técnico de diagnóstico e terapêutica.
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