“A história vai mudar. Em 1973 mudou e agora vai mudar outra vez. Não sei o que vai acontecer, mas vai mudar”, disse à Lusa um jovem kibbutzin, descendente de brasileiros, invocando a guerra do Yom Kippur (06 a 25 de outubro de 1973).
Munido de uma espingarda de assalto, o jovem está de serviço na entrada principal do ‘kibbutz’ com mais de mil habitantes, metade dos quais são descendentes de judeus brasileiros que vieram para esta comunidade judaica depois da sua fundação, em 1948.
Todo o perímetro está sob vigilância permanente porque se encontra situado a escassos sete quilómetros da Faixa de Gaza, onde ocorrem combates entre as forças israelitas e fundamentalistas do movimento islamita Hamas, que lançou uma operação de grande envergadura no sábado passado contra Israel.
No interior, kibbutzim (habitantes do kibbutz) de todas as idades organizam o envio de ajuda de bens essenciais, roupa e água para as tropas, mantendo ao mesmo tempo a sua atividade agrícola habitual.
O movimento kibbutz teve origem no princípio do século XX, tratando-se de comunidades de inspiração socialista dedicadas a atividades agrícolas onde se fomenta o espírito comunitário e a capacidade de auto-defesa.
Alguns dos fundadores com mais de noventa anos, oriundos sobretudo de São Paulo e do Rio de Janeiro, ainda vivem neste kibbutz acompanhados dos seus descendentes.
Desde o dia 07 de outubro, as atenções estão concentradas na Faixa de Gaza, até porque outros kibbutz foram atacados diretamente pelas forças do movimento islâmico Hamas, sobretudo a norte da denominada “linha do armistício de 1950”, traçada após a guerra de 1948 entre Israel e os seus países vizinhos: Egito, Jordânia, Síria e Líbano.
Na opinião de Yanai Guilboa, de 60 anos e descendente de brasileiros, Israel tem capacidade para neutralizar o Hamas.
“Eu acredito que vamos conseguir anular o Hamas, mas há um preço e muitos civis do lado deles vão morrer. Eles [Hamas] impedem civis [palestinianos] de sair porque os usam para se defender”, considera, acrescentando que o maior problema são os israelitas sequestrados e que se encontram em Gaza.
“Temos mais de 150 reféns (israelitas), pessoas idosas em cadeiras de rodas, crianças e mulheres. Temos de fazer a guerra como se não houvesse reféns e temos de tratar do problema dos reféns como se não houvesse guerra. É isto que complica mais a situação”, diz, admitindo uma troca de reféns por prisioneiros.
“Pessoalmente gostaria que houvesse uma troca de reféns: prisioneiros palestinianos em Israel pelos reféns. Eu espero que, pelo menos na primeira fase, eles venham a devolver as crianças, os velhos e as mulheres”, afirma o kibbutzim, pai de três filhos, dois dos quais incorporados como reservistas nas forças militares israelitas desde o início da semana.
A escalada no conflito israelo-palestiniano foi desencadeada pela incursão sem precedentes do Hamas em Israel no sábado, que matou civis e militares e fez mais de uma centena de reféns, levados para a Faixa de Gaza.
Desde então, o conflito provocou mais de 1.300 mortos do lado israelita e mais de 1.500 do lado palestiniano.
Os bombardeamentos israelitas provocaram também mais de 423 mil deslocados na Faixa de Gaza.
*Por Pedro Sousa Pereira (texto) e Manuel de Almeida (fotos), da agência Lusa
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