“Os migrantes de Tigray que passaram por abusos terríveis sob custódia da Arábia Saudita estão a ser presos em instalações de detenção quando regressam à Etiópia”, disse a refugiada e investigadora da HRW Nadia Hardman, acrescentando que “a Arábia Saudita devia garantir proteção às pessoas em risco e a Etiópia devia libertar todos os deportados que foram detidos arbitrariamente”.
No relatório, a organização defende que os responsáveis sauditas devem “parar de deter habitantes do Tigray em condições abomináveis e deportá-los para a Etiópia, e deviam, em vez disso, ajudar o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados a garantir-lhes proteção internacional”.
Todos os anos, milhares de etíopes, principalmente das regiões de Tigray e Amhara, viajam ilegalmente para a Arábia Saudita através do Iémen à procura de uma vida melhor, mas muitos acabam deportados pelas autoridades sauditas.
De acordo com a Etiópia, dezenas de milhares de migrantes regressaram a casa nos últimos meses, mas muitos estão detidos ilegalmente em instalações na capital, Adis Abeba.
A guerra eclodiu em 04 de novembro de 2020, quando Abiy Ahmed — laureado com o prémio Nobel da Paz em 2019 -, enviou o Exército federal para Tigray com a missão de retirar pela força as autoridades da província, governada pelas TPLF, que vinham a desafiar a autoridade de Adis Abeba há muitos meses.
O pretexto específico da invasão foi um alegado ataque das TPLF a uma base militar federal no Tigray, e a operação foi inicialmente caracterizada por Adis Abeba como uma missão de polícia, que tinha como objetivo restabelecer a ordem constitucional e levar à justiça os responsáveis pela sua perturbação continuada.
Abiy Ahmed declarou vitória três semanas depois da invasão, quando o Exército federal capturou Mekele. Em junho deste ano, porém, as forças afetas às TPLF já tinham retomado a maior parte do Tigray, e continuaram a ofensiva nas províncias de Amhara e Afar.
O conflito na Etiópia provocou a morte de vários milhares de pessoas e fez mais de dois milhões de deslocados, deixando ainda centenas de milhares de etíopes em condições de quase fome, de acordo com a ONU.
Uma investigação conjunta do Alto-Comissariado das Nações Unidas e da Comissão Etíope dos Direitos Humanos, criada pelo Governo etíope, concluiu no início de novembro que foram cometidos crimes contra a humanidade por todas as partes envolvidas no conflito, onde participaram o Exército da Eritreia, ao lado do Exército federal etíope, assim como forças rebeldes da província de Oromo, ao lado das TPLF.
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