“Estão a forçar os habitantes da cidade a saírem. Os soldados russos têm-se mudado para os apartamentos livres em toda a cidade de Kherson. É óbvio que estão a preparar-se para lutar contra o Exército ucraniano na cidade”, adiantou o morador, que se apresentou apenas como Konstantin por razões de segurança.
Segundo Konstantin, os soldados russos estão a instalar-se em apartamentos desocupados, indo de porta em porta, verificando as escrituras de propriedade e forçando os inquilinos a sair imediatamente se não puderem confirmar a propriedade das habitações.
Os moradores também relataram problemas com o fornecimento de bens alimentares, acrescentando que hospitais e clínicas não estão a atender pacientes em Kherson.
“Quase não há entregas de alimentos na cidade, os moradores estão a usar os seus próprios ‘stocks’ e estão a fazer filas para as poucas lojas que ainda se encontram abertas”, realçou Konstantin.
A informação de militares a se espalhar pela cidade Kherson sugere que a Rússia poderá estar a preparar-se para uma guerra urbana, antecipando-se aos avanços ucranianos.
As tropas russas têm pedido aos civis residentes em Kherson que deixem a cidade, que fica na margem direita do rio Dnieper e foi isolada do acesso de bens essenciais e alimentares pelo bombardeamento ucraniano.
O vice-administrador pró-russo da região de Kherson, Kirill Stremousov, reiterou solicitações para que os civis partam para a margem esquerda do rio.
Na quinta-feira, Stremousov disse que as forças russas podem se retirar da cidade de Kherson em breve, mas hoje referiu que essa declaração era apenas uma tentativa de encorajar a evacuação urbana.
Por sua vez, o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, indicou que os russos estavam a fingir uma retirada de Kherson para atrair o Exército ucraniano.
Zelensky chamou as tentativas de convencer os civis a permanecerem no território controlado pela Rússia de “teatro”.
As forças russas tomaram a cidade Kherson na primeira fase da ofensiva militar na Ucrânia no final de fevereiro.
A Rússia anexou ilegalmente as regiões ucranianas de Kherson, Donetsk, Lugansk e Zaporijia, no final de setembro e declarou lei marcial nas quatro províncias.
A administração pró-russa em Kherson já retirou dezenas de milhares de civis da cidade, citando a ameaça de aumento dos bombardeamentos enquanto o Exército ucraniano prossegue a sua contra-ofensiva.
As autoridades removeram a bandeira da Rússia do edifício da administração na quinta-feira.
A porta-voz militar do sul da Ucrânia, Natalia Humeniuk, alertou que a remoção da bandeira podia ser uma armadilha e disse que os ucranianos não se deviam “apressar” em festejar.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas — mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,7 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.430 civis mortos e 9.865 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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